Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

258 A Guerra de Sessenta Anos. A região-mundo platina e as causas do conflito de 1864 estourou o conflito contra López, então esta última etapa da Guerra de Sessenta Anos somente poderia ter outra causa. Do ponto de vista das alianças sistêmicas, haveria razão em assumir o início do conflito contra López não a partir da captura do vapor Marquês de Olinda pelos paraguaios, mas quando o Império interveio militarmente no Uruguai, que, escorando-se numa aliança não escrita com Assunção, já havia rasgado os Tratados de 1851. Pela mesma lógica, o envolvimento argentino teria ocorrido antes da invasão ao litoral pelas tropas paraguaias, já que o porto blanco de Montevidéu oferecia a Assunção auspiciosa variante comercial ao de Buenos Aires, onde Mitre encabeçava um governo nacional dependente da alfândega para sustentar, pela força militar, seu domínio sobre o sistema autonômico provincial. No entanto, na perspectiva da região-mundo, o conflito de 1864 foi apenas um episódio da Guerra de Sessenta Anos: as origens das hostilidades contra López não poderiam resumir-se ao imbróglio blanco-lopista. O Brasil foi o nódulo da nova contradição platina, porque o status quo logrado na década de 1850 estava em revisão. Assim, a síntese de 18511852 foi uma superação apenas parcial das contradições próprias à primeira etapa da Guerra de Sessenta Anos, visto que as contestações ao status quo hegemônico imperial, ao mesmo tempo que sugeriam ao Rio de Janeiro um retorno às fragilidades estado-nacionais anteriores, eram as vias autonomistas de inserção regional para o Uruguai e o Paraguai no início da década de 1860: tornando tudo mais complexo, elas mesmas eventuais ameaças à hegemonia interna que Buenos Aires assegurara em Pavón. Visto por outro ângulo, foi tão somente mediante a interiorização da síntese de 1851-1852 que Assunção firmou-se soberana pela projeção no Prata e, para preservar sua fortuna, entrou em contradição com o Rio de Janeiro, cuja unipolaridade, naquele então, já estava desmentida pelos blancos. Em sequência, o Império respondeu de forma ultrapatriótica ao nacionalismo blanco de Bernardo Berro e de Atanasio Aguirre – e de seu aliado paraguaio, Solano López. A culpa do Império, caso seja pertinente buscá-la, estaria assim apenas na precedência de sua agressão. No entanto, na lógica da região-mundo interessa compreender a hostilidade brasileira, em primeira instância, como incorporação das lições do tempo. Por essa mesma lógica, quando d. Pedro II negou compaixão qualquer por Solano López em janeiro de 1869, no fundo, não expressava apenas a honra abalada ou a aposta nos louros da vitória que seu genro traria ao Império. Falava das invasões joaninas, de Rivadavia e dos farrapos, mas sobretudo dos êxitos de 1851-1852, do orçamento imperial e dos escravos foragidos no Uruguai, de Urquiza e da Batalha de Pavón, do porto de Buenos Aires e da variante de Montevidéu. Ordenava, em resumidas

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