263 Sarah Tortora Boscov As imagens podem ser usadas como fontes históricas para análise por conterem traços, camadas históricas, bem como conceitos de determinada época que chegam aos historiadores como vestígios que se conservaram, e que podem ser entendidos, nos casos pictóricos, como cinzas “não só pelo tempo que passa, como pelas cinzas de tudo aquilo que o rodeava e que ardem”4 ao olharmos para uma representação imagética. Para Koselleck, uma das formas de se compreender a história se dá por meio da investigação dos fatos “que já foram anteriormente articulados na linguagem ou então, com ajuda de hipóteses e métodos, [que o historiador] reconstrói fatos que ainda não chegaram a ser articulados, mas que ele revela” através de vestígios,5 ou seja, essas articulações são conceitos, e são primordiais para compreender a história por apreenderem a narrativa mediante a linguagem. Porém, pode-se estender tal ideia para as representações pictóricas, pois, como atesta Didi-Huberman, são as imagens a forma específica de se pensar o tempo histórico e social.6 Os conceitos são apreendidos pela experiência histórica ou podem ser elaborados posteriormente para explicar uma dada realidade, nas palavras de Koselleck, seriam estes alguns conceitos que “não classificam experiências, mas [se tratam] de conceitos que criam experiências”;7 tais conceitos viriam antes da experiência em si, o que por um lado, se aproxima da capacidade da imagem em conter elementos que muitas vezes só serão compreendidos por épocas posteriores que não de sua produção, devido ao fato das imagens não serem fixas em um tempo cronológico, mas conterem em seu interior o encontro de passado e futuro, de tempos heterogêneos – apesar de invariavelmente apreenderem questões próprias de seu tempo que são passiveis de serem representadas por se apoiarem em padrões de repetibilidade que dão pistas de vivências passadas, “inclusive de pessoas comuns que vivenciam os padrões disponíveis de sensibilidade diante do tempo que lhes são oferecidos no momento em que vivem”.8 Nas imagens pode- se perceber reminiscências e repetições que são demandas do cotidiano em que o autor da imagem está inserido; contudo, há nelas também estruturas de longa duração devido aos 4 DIDI-HUBERMAN, George. Quando as imagens tocam o real. Pós: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 206-219, nov./abr. 2012. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistapos/article/view/15454. 5 KOSELLECK, op. cit., p. 305. 6 TAVARES, Marcela Botelho Tavares. O(s) Tempo(s) da Imagem: uma investigação sobre o estatuto temporal da imagem a partir da obra de Didi-Huberman. 2012. 114 f. Dissertação (Mestrado em Estética e Filosofia da Arte) – Programa de Pós-Graduação em Estética e Filosofia da Arte, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2012. p. 10. 7 KOSELLECK, op. cit., p. 324. 8 D´ASSUNÇÃO, José. Koselleck, a história dos conceitos e as temporalidades. Araucaria. Revista Iberoamericana de Filosofia, Política y Humanidades, Sevilha, v. 18, n. 35, p. 41-53, jan./jun. 2016. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/282/28245351003.pdf.
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