Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

266 As imagens e os Tempos encontro do passado com o presente.24 Desse modo pode-se apreender o(s) tempo(s) histórico(s) em suas diversas dimensões como cotidiana, política, religiosa, etc., por conta da assimetria existente entre os conceitos de espaço de experiência e horizonte de expectativas, sendo que cada época tende a reavaliar essa tensão que pode ser, igualmente, entendida como uma tensão entre Passado e Futuro, por meio da mediação do Presente.25 Cabe ressaltar que cada época deixa registrado em imagens não só suas demandas do presente, mas suas interpretações de passado bem como expectativas de futuro. A partir do século XVI nota-se um aumento considerável de registros imagéticos no Ocidente, isso deve-se, em parte, a um sentimento intenso de assinalar a realidade que estava se consolidando na Europa cristã ocidental, sentimento que visava tratar do universal em termos de quantidades uniformes, e não mais de qualidade. Era o sentir dando lugar ao existir que incentivou registros gráficos, quer escritos, quer em forma de imagens, sendo esse último a tradução do desejo de demarcar o máximo possível a realidade visualmente.26 Valorizava-se cada vez mais a vista como construtora de conhecimento a qual levou à prática da representação, o que era visto no cotidiano deveria ser representado culminando em um vínculo entre a representação pictórica e o que era de conhecimento natural. As expressões visuais tornaram-se cada vez mais necessárias à cultura europeia e posteriormente às culturas americanas e dos jovens Estados independentes do século XIX na América, intensificando-se a vulgarização “da imagem com finalidades informativas e didáticas”.27 No tocante a América portuguesa, objeto de parte de nossa pesquisa, com a chegada da Corte em 1808 há a criação de condições de “um novo tipo de experiência histórica ou de temporalidade descrita como ‘moderna’”.28 Houve, dessa maneira, o incremento às temporalidades vividas de uma nova forma de experienciar o tempo cujo sentimento de celeridade, abertura e expansão de um novo horizonte de expectativas, era uma das formas desse novo tempo se apresentar a parte dos agentes da época. Na América, segundo Guillermo Zermeño, ocorre no século XIX a fratura entre 24 DIDI-HUBERMAN, op. cit., 2006a, cap. 4, p. 339-340. Cristal de tempo é um conceito que Didi- -Huberman analisa e toma emprestado de Walter Benjamin para pensar as imagens e o tempo. Para Benjamim a imagem demonstra o choque fulgurante e resplandecente do passado (outrora) com o presente (agora), um choque que traz à luz uma constelação, a qual Benjamin denomina de “dialética em suspenso”. Não é algo que se desenvolve, mas uma imagem entrecortada pela relação do Outrora com o Agora. 25 D’ASSUNÇÃO, op. cit., p. 51. 26 CROSBY, Alfred: A mensuração da realidade. A quantificação e a sociedade ocidental, 1250-1600. São Paulo: UNESP, 1999. 27 FARIA, Miguel Figueira de; PATACA, Ermelinda Moutinho. Ver para Crer: A importância da imagem na gestão do Império Português no final de Setecentos. Anais: Série Histórica, Lisboa, v. 9-10, p. 61-98, 2005. p. 65, v. IX/X. 28 ZERMEÑO PADILLA, Guillermo. História, experiência e modernidade na América Ibérica, 17501850. Almanack Braziliense, São Paulo, n. 7, p. 5-46, 2008. Disponível em: http://www.revistas.usp. br/alb/article/view/11679/13449.

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