267 Sarah Tortora Boscov história sagrada tida como perfeita e a humana – a história que pode ser protagonizada pelos homens e não apenas repetida ao longo dos tempos – advinda dos eventos políticos e sociais que propriamente intelectuais.29 No entanto, a abertura de um novo espaço de experiência política não eliminou automaticamente as formas de vida criadas anteriormente. No âmbito das artes, a partir de 1808, abre-se espaço a novas formas de representação não mais ligadas ao predomínio da arte sacra representativa, sobretudo, de um tempo religioso sempre voltado ao futuro eterno, sucede a este o espírito racionalista e laico que daria formas imagéticas e arquitetônicas aos índices de civilização aspirados pela Coroa portuguesa em terras brasílicas.30 Nessa circunstância há uma abertura de horizonte nas imagens bem como “uma transformação na presença, na produção, circulação, no consumo, nos usos e nos significados das imagens”31 para parte da sociedade da época. Dessa forma, as artes foram muito estimuladas e incentivos foram dados para a vinda de artistas estrangeiros que deixaram muitos registros pictóricos em um contexto em que as expedições científicas se proliferavam legando à História da Arte uma nova categoria artística produzida por artistas viajantes.32 À guisa de exemplo: Figura 1- Thomas Ender, “Floresta do Morro do Corcovado”, 1817. Fonte: Brasiliana Iconográfica, Instituto Moreira Salles. 29 ZERMEÑO PADILLA, op. cit., p. 16. 30 LIMA, op. cit., p.108-109. 31 SCHIAVINATTO, Iara Lis Schiavinatto. Passados presentes: alguns sentidos das imagens nas Independências do Brasil. In: FURTADO, Junia Furtado; SLEMIAN, Andréa. Uma cartografia dos Brasis: poderes, disputas e sociabilidades na Independência. Belo Horizonte: Fino Traço, 2022. p. 23. 32 DIENER, Pablo Diener; COSTA, Maria de Fátima Costa. A Arte de Viajantes: de documentadores a artistas viajantes. Perspectivas de um novo gênero. Revista Porto Arte: Revista de Artes Visuais, Porto Alegre, v. 15, n. 25, p. 75-89, nov. 2008. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/PortoArte/ article/view/10537.
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