278 Experimentos laboratoriais: tempo, espaço, estrutura e agência em um estudo sobre os correios do Brasil correios, um português sediado no Rio de Janeiro precisava aguardar cerca de 132 dias para que sua carta chegasse à cidade de Belém do Pará, depois, sua carta poderia ser entregue depois de aproximadamente 49 dias.15 Rede postal e construção social do espaço: Wallerstein e Harvey O novo tempo das comunicações que os correios haviam criado se sustentava sobre uma nova espacialidade. Em um mundo ocidental no qual conflitos imperiais entre Grã-Bretanha, França, Espanha, Portugal e Holanda se desdobravam sobre domínios coloniais, a Coroa portuguesa tinha boas razões para temer por sua soberania na América. A “regeneração” do Reino, que pautava objetivos de reformas ilustradas desde meados do Setecentos, dependia, na avaliação de letrados lusos, da manutenção das colônias portuguesas da América como partes da monarquia, pois o perigo de perdê-las sinalizava um grave risco para Portugal. Por essa razão, o aperfeiçoamento da integração territorial das colônias americanas com a metrópole, por intermédio dos correios, foi concebido como uma necessidade para a preservação da soberania do império. Tanto era assim que o Secretário da Marinha e Ultramar responsável pela condução da reforma postal, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, chegou a alertar para o “perigo que pode haver em confiar tais estabelecimentos”, como os correios, “a particulares [...] de que é evidente testemunho o fato da América Inglesa, onde Franklin produziu a grande revolução servindo-se do ofício de correio-mor”.16 As disputas imperiais por domínios coloniais eram movidas não apenas pela concorrência pela hegemonia política na Europa, tratava-se também de uma competição econômica. Muitas políticas reformistas da Coroa portuguesa visavam aperfeiçoar o comércio intercolonial e diversificar a produção agrícola de suas colônias. A emergência da rede postal luso-americana não estava desvinculada dessas expectativas econômicas mais abrangentes, haja vista que, além de representar um novo ramo de arrecadação fiscal, os correios estavam atendendo a demandas de setores comerciais que enxergavam na construção de uma rede regular de comunicação um meio para a integração comercial. Desse modo, as próprias preocupações e motivações dos portugueses envolvidos na construção da rede postal suscitam a possibilidade de integrá-la a estruturas políticas e econômicas mais amplas. Dois modelos teóricos contribuíram para realizar essa articulação entre escalas de análise. No final dos anos 1980, o sociólogo Immanuel Wallerstein escreveu que “para manter os baixos custos de produção de bens periféricos, foi neces15 FORTUNATO, op. cit., p. 294. 16 Ibidem, p. 111.
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