279 Thomáz Fortunato sário envolver novas regiões dentro da economia-mundo”. O envolvimento de novas regiões em seu interior – marcado por uma divisão do trabalho – era “uma função de quanto território novo a economia-mundo capitalista era capaz de integrar”. Esse impulso de expansão territorial respondia a “uma necessidade que foi em si o resultado de pressões internas à economia-mundo”.17 A incorporação territorial de novos espaços à economia-mundo capitalista implicava a integração da produção econômica desses locais aos mercados onde parte da acumulação de capital se realizava; para isto, era importante que as estruturas políticas desses lugares se agregassem a um sistema interestatal: o sistema-mundo capitalista.18 Por volta da mesma época, em 1989, o geógrafo David Harvey argumentou que a emergência de modos mais flexíveis de acumulação de capital estava relacionada a um novo ciclo de compressão espaçotemporal. A acumulação flexível se apoiava nas capacidades de rápida mudança nos mercados de trabalho, nos produtos e nos padrões de consumo em um processo articulado de fenômenos políticos, econômicos e culturais19 que, juntos, formavam a “multiplicidade das qualidades objetivas que o espaço e o tempo podem exprimir”, e apontavam para “o papel das práticas humanas em sua construção”. Afinal, “as concepções do tempo e do espaço são criadas necessariamente através de práticas e processos materiais que servem à reprodução da vida social”. Posto que a produção capitalista torna os processos materiais de reprodução social algo em permanente mudança, “as qualidades objetivas como os significados do tempo e do espaço também se modificam”. Transformações espaço-temporais que, por sua vez, são parte da história de disputa social pelo poder marcada, na Modernidade, por várias compressões espaço-temporais.20 Os correios luso-americanos foram um desses casos. Diferentemente de todas as iniciativas anteriores de construção de correios na América portuguesa, a reforma do final do Setecentos foi a primeira que se pautou por uma geografia transcontinental. Até aquele momento, nenhuma iniciativa postal havia se orientado para a criação de uma rede de comunicação capaz de articular, regularmente, todas as capitais das colônias 17 WALLERSTEIN, Immanuel. The ModernWorld-System III: the Second Era of Great Expansion of the Capitalist World-Economy, 1730-1840s. Berkeley: California University Press, 2011. p. xv-xvi; 129. Traduções livres de: “in order to maintain the low production costs of peripheral goods, it was necessary to involve new regions within the world-economy”; “a function of how much new territory the capitalist world-economy was able to integrate”; “a need which was itself the outcome of pressures internal to the world-economy”. 18 WALLERSTEIN, op. cit., p. 130; 170; 189; 254-256. A história da independência do Brasil, e da penetração britânica em sua economia, seria, como as demais revoluções do período, mais um ponto de consolidação do sistema-mundo capitalista. 19 HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 2008. p. 8; 140-141; 187. 20 Ibidem, p. 189; 207; 237; 257.
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