Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

280 Experimentos laboratoriais: tempo, espaço, estrutura e agência em um estudo sobre os correios do Brasil portuguesas na América; pelo contrário, elas reforçavam o caráter fragmentário que a frágil articulação entre esses territórios tinha. Por essa razão, o estabelecimento da rede postal na passagem do Setecentos ao Oitocentos representou a construção de uma nova espacialidade para as colônias americanas de Portugal. A espacialidade unificadora por ela promovida, além de aperfeiçoar a integração entre produção e comércio, entre instituições do Estado imperial, apontava para uma nova prática de construção social do espaço que estava modificando suas qualidades objetivas e subjetivas. De um lado, a rede postal estava disponibilizando uma nova estrutura para a realização da comunicação à distância: maior interconectividade, maior regularidade e maior velocidade. De outro, essas mudanças mudavam a percepção social das distâncias, a ponto de um viajante como John Luccock registrar que, em 1813, “Haviam os Correios estendido sua rede por todas as partes dos domínios lusitanos; no Brasil, especialmente, as províncias e povoações mais remotas comunicavam-se umas com as outras, com facilidade e segurança”.21 Agentes políticos transformando estruturas postais: Sewell Jr. Nas duas primeiras décadas do século XIX, a rede de correios foi capaz de proporcionar à Coroa portuguesa meios para incentivar o comércio, acelerar e regularizar as comunicações políticas, auxiliar a integração territorial e preservar uma relativa estabilidade dentro de uma conjuntura de profunda crise. Contudo, as novas fissuras da monarquia portuguesa abertas pela Revolução do Porto em 1820 transformariam estruturas da rede postal. Juntas de Governo Provisório foram sendo formadas de Norte a Sul, com alianças políticas que fragmentavam as condições de soberania da Coroa sediada no Rio de Janeiro. A instabilidade desse período, marcada por múltiplos projetos políticos concorrentes, projetava-se em futuros incertos e criava, para muitos portugueses, uma sensação de colapso das instituições. O ritmo com o qual vários grupos políticos adquiriam notícia do que se passava em outros territórios estava sendo balizado pelos próprios espaços-tempo criados pelos correios nos anos precedentes; e como a criação ou dissolução de alianças políticas entre diferentes porções do território dependia da comunicação, o controle da rede postal passou a ser disputado por grupos rivais. A espacialidade e a temporalidade das comunicações que a rede de correios havia logrado estruturar nas primeiras décadas do século XIX estava sendo rapidamente esgarçada. As Cortes de Lisboa buscaram criar serviços postais paralelos com as províncias do Norte e Nordeste para consolidar lealdades políticas; o governo de D. Pedro, no Rio de Janeiro, tentava contornar, 21 FORTUNATO, op. cit., p. 269.

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