286 A contribuição da leitura da obra “Ideias em Confronto. Embates pelo poder na Independência do Brasil (1808-1825)” para a diferenciação entre evento e processo histórico na Independência do Brasil cia, as violentas relações presentes na sociedade que se construía também em processos revolucionários e contextos de crises. Dessa maneira a compreensão das questões relacionadas à ruptura representada pela independência deve ser somada a busca das outras possibilidades existentes, das alternativas e possibilidades de negociação ou de rearticulação de circuitos comerciais e políticos impactados pela transferência da Corte para o Rio de Janeiro, pela Revolução de 1820 e outros momentos em que as bases políticas do novo Estado eram contestadas. A existência de diferentes projetos políticos que variavam nas possibilidades de participação, no entendimento do papel das eleições e na apresentação de demandas demostram que na primeira metade do século XIX muitas eram as questões em aberto. Havia perspectivas voltadas para questões de relacionamento entre as várias províncias e o governo central, a existência de propostas federativas, confederativas ou mesmo da centralização e não havia consenso sequer a respeito da necessidade de separação como ruptura com Portugal. Conforme indica na introdução intitulada “Indicando Caminhos” este livro propõe uma interpretação diferente do processo histórico e político em curso na América Portuguesa, entre os fins do século XVIII e o início do século XIX, contrariando versões comumente divulgadas. convidando o leitor a percorrer comigo entendimentos da Independência que se diferenciam daquilo que podemos chamar de ‘saber já sabido’, no mais das vezes afirmações requentadas, que não inspiram articulações entre o presente incerto, o futuro indefinido e um passado que ainda pode oferecer novas perspectivas de compreensão sobre a formação histórica do país.4 O desafio de enfrentar um “saber já sabido” e de fazer novas propostas de análises fazendo essa articulação entre presente, futuro e passado, indicado pela autora, revela-se já de início uma valiosa proposição. Quantos dos nossos trabalhos não abordam temas já trabalhamos em diversos momentos e para os quais procuramos acrescentar novas perspectivas? Tratando da pesquisa da Confederação do Equador que desenvolvo no momento, esses desafios iniciais também parecem presentes pois minha proposta visa também evitar a “monumentalização” do movimento de 1824 desenvolvendo uma análise que amplie os espaços da Confederação para uma espacialidade atlântica desenvolvida pela circulação de pessoas envolvidas nos movimentos políticos, mas também pela circulação de notícias em periódicos publicados em diversos países e em momentos diferentes. Existe toda uma vasta bibliografia “tradicional” que precisa ser analisada e também textos mais recentes e a questão de como fazer análises utilizando pontos de vista contemporâneos também se coloca. 4 OLIVEIRA, op. cit., p. 11-12.
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