Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

287 Vinícius Carneiro de Albuquerque Os debates sobre a obra parecem indicar algumas possibilidades de diálogo com versões tradicionais, de nos afastarmos da armadilha do evento, da data representando toda a experiência, e então podermos abordar novas questões relativas aos motivos dos enfrentamentos com simples pergunta da autora “Por que ocorreram guerras?”.5 Pergunta que devemos fazer também para outros espaços e diferentes províncias naquele contexto em que muitos conflitos ocorreram nos espaços em transformação na América portuguesa, mas também em muitos outros lugares do mundo Atlântico nos quais se produzia a ruína de uma antiga ordem e se erigiam novas experiências marcadas por confrontos e indeterminações. Dessa maneira, colocar questões de forma direta pode auxiliar a termos mais clareza sobre os problemas que devemos tratar. A síntese a partir de uma narrativa abrangente que não abre mão de fazer análises e dialogar com a historiografia ora se aproximando de determinados grupos, ora se distanciando, revela-se uma operação complexa, mas que pode ser realizada satisfatoriamente e trazer contribuições expressivas para a pesquisa sobre a Confederação do Equador. A escolha por manobrar diversas questões políticas e filosóficas ao longo de um tempo bastante amplo – indo do século XVIII até o primeiro quartel do século XIX, além de diferentes espaços, grupos e perspectivas indica como é possível trabalhar com uma visão ampla alternada com aproximações mais minuciosas em que as questões relevantes pontuais são abordadas em função de problemas mais amplos. Algumas narrativas a partir dos espaços acabam trabalhando também cronologias diferentes dentro desses espaços quando da emergência de interesses econômicos e políticos que, por vezes, se unem ou se distanciam, de acordo com novos arranjos necessários. Ao problematizar os embates pelo poder na Independência estende a cronologia de 1808 a 1825 e assim temos uma dimensão mais ampla e que não se prende a 1822. Dessa maneira a Independência não deve ser circunscrita ao ‘evento’ 1822 Essa maneira de trabalhar a independência nos pareceu ser possível de ser replicada em outras pesquisas. Evitar a ‘armadilha’ da data como o elemento constitutivo do evento não é algo simples de se obter, mas é uma operação que precisa ser buscada. Em termos metodológicos, a constante presença da noção de processo surge como um aspecto importante da obra e que podemos aproveitar em diferentes análises. O cuidado com as abordagens espaciais procurando indicar onde as disputas eram dadas, quais interesses econômicos estavam mais ou menos evidentes, também se revela como uma escolha a ser valorizada. As experiências políticas se dão em espaços e mobilizam interesses materiais que não devem ser abstraídos das análises e isso aparece em diversos momentos. A busca dos significados da existência de intensas divergências políticas não pacificadas com a declaração de Independência torna-se ainda mais 5 OLIVEIRA, op. cit., p. 13.

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