290 A contribuição da leitura da obra “Ideias em Confronto. Embates pelo poder na Independência do Brasil (1808-1825)” para a diferenciação entre evento e processo histórico na Independência do Brasil das atuais possa ser percebida. A circulação de ideias, de informações e de versões que podem ser desencontradas constituem elementos que tornam as negociações mais complexas. Os espaços de exercício da política estavam em ampliação no processo de crise e eram bastante variadas as oportunidades de atuação política presentes em diferentes escalas. O poder radicado na Corte do Rio de Janeiro não era incontestável e não estava plenamente estruturado sendo necessárias negociações com interlocutores oriundos de múltiplas experiências políticas acumuladas regionalmente ou nas Câmaras Municipais, sendo pouco a pouco integrados ao Estado em construção ou mesmo o confrontando. O poder de d. Pedro, no início da Regência, enfrentava indeterminações políticas e econômicas e esse aspecto é importante como operação analítica pois não coloca d. Pedro como o articulador exclusivo do processo, nem tampouco como um movimento que necessariamente desembocaria no 7 de setembro escapando como já afirmamos anteriormente, de cair na armadilha dessa data. O envolvimento de múltiplos setores sociais e políticos nas disputas, o Vintismo e as Juntas Provinciais e, depois, as negociações em torno da Assembleia são manifestadas em debates na imprensa que revelam a existência de um ‘amplo leque de projetos políticos’. Dessa maneira o procedimento analítico recorre às manifestações estabelecidas em documentos com as devidas notas, mas procura ver como novos espaços de atuação estavam se constituindo olhando, inclusive, para outras experiências coloniais e atlânticas, além de modelos federativos e confederativos que marcam indiscutivelmente o caráter da provisoriedade das soluções que se estabeleciam em meio a disputas, embates e negociações. A permanência do príncipe no Rio de Janeiro no contexto de retorno de D. João VI a Lisboa tornava ainda mais complexas as relações políticas constituindo tramas cada vez mais complexas que eram estabelecidas, desfeitas, rearranjadas e negociadas constantemente por múltiplos personagens em diferentes espaços na América e na Europa sendo o então príncipe regente um dos agentes e certamente não o único. A preocupação em observar os processos faz com que se reconheça uma situação revolucionária quando ordenamentos antigos não funcionavam mais e que se abria era um horizonte de incertezas e temores no qual estavam colocados projetos e interesses dos “corcundas”, dos monarquistas constitucionais, e de republicanos. Esse aspecto é fundamental como operação analítica que reconhecemos como uma contribuição enorme para os debates atuais pois reforça a provisoriedade e mais, os múltiplos projetos e possibilidades existentes e expressos em palavras cujos sentidos estavam em construção. Dessa forma nos parece que tentar separar os participantes, quer sejam indivíduos quer sejam grupos, segundo categorias amplas fica ameaçado por uma importante indeterminação pois sequer os envolvidos já tinham estabelecido o
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