292 A contribuição da leitura da obra “Ideias em Confronto. Embates pelo poder na Independência do Brasil (1808-1825)” para a diferenciação entre evento e processo histórico na Independência do Brasil a atuação de Soares Lisboa7, dentre outros, estabelece o papel da imprensa e demonstra disputas políticas em torno da presença de portugueses e das ideias de recolonização. Existe no texto o olhar para o Rio de Janeiro, mas também para Pernambuco, para Bahia além da busca dos sentidos para a ideia de independência – palavra polissemia e com sentidos em disputa. Como dito anteriormente, a opção em separar da independência do 7 de setembro permite observar construções diferentes e conflitantes – e no caso da minha pesquisa, opção metodológica que parece bastante promissora. Analisando como se deu a formação da monarquia constitucional e dos cidadãos do Império, no capítulo 5, a ênfase nas disputas e polissemia dos termos continua – pátria e nação8 estão ainda em aberto, as guerras entre 1822 e 1823 não foram encerradas e a dimensão do conflito militar apresenta também na construção política, além da atuação dos representantes de treze províncias na Assembleia em 1823 – quais os limites dos poderes de então? As disputas políticas referidas ligam-se diretamente com o Norte do Império mencionando o problema da nação’ e da ‘pátria do cidadão’9, com os escritos de Frei Caneca e, assim como reconhece e afirma a complexidade da independência e do 7 de setembro, afirma que a Confederação do Equador10 foi deflagrada em janeiro de 1824, quando não se deu posse ao presidente da província indicado pelo Rio de Janeiro – escapando também aí do canônico 2 de julho e permitindo pensar o processo de construção política de maneira relacional e complexa. O texto procura situar eventos em perspectivas políticas mais amplas buscando as repercussões e a construção da repressão como mecanismo político constitutivo do Império. Ou seja, em sua análise olhar para o 7 de setembro não é o suficiente pois nos explica que existem apagamentos ou silenciamentos em arquivos, bibliotecas e museus e que é fundamental questionar as fontes, procurar melhor compreender suas origens, autorias, destinações e porque algumas foram preservadas e outras não, seu caráter de vestígios, de remanescentes compondo acervos e coleções utilizadas para a reconstituição de determinadas circunstâncias históricas. Devemos assim interrogar também a respeito de ausências, de silenciamentos produzidos por escolhas do que seria preservado ou mesmo destruído. Salienta que os vestígios também são decorrentes de escolhas de agentes do poder que no passado e no presente fizeram escolhas, esconderam confrontos e conflitos, estabeleceram consensos e construíram a 7 FERREIRA, Paula Botafogo Caricchio. Negócios, impressos e política: a trajetória pública de João Soares Lisboa (1800-1824). 2017. 426 f. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Campinas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2017. OLIVEIRA, op. cit., p. 135-136. 8 OLIVEIRA, op. cit., p. 149. 9 Ibidem, p. 165 10 Ibidem, p. 185
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