Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

30 Entre a História Comparada e a perspectiva do Sistema Mundo cipalmente do artigo Capitalism, Slavery and the Making of the Brazilian Slaveholding Class: A Theoretical Debate onWorld-System Perspective, publicado na Revista Almanack em 2019. Na dissertação, repisei os passos de Ilmar Mattos, Ricardo Salles, e Tâmis Parron em seus estudos sobre a intersecção entre a escravidão e a política imperial brasileira para investigar o avanço da fronteira do café e o papel da arquitetura na formação do núcleo da classe senhorial no Vale do Paraíba. Já o artigo defendeu uma hipótese mais abrangente e propôs uma agenda de pesquisa. Nesse texto, revisitei a historiografia da escravidão e do capitalismo, assim como as teorias da estratificação social, para argumentar que a formação da classe escravista do Vale do Paraíba decorreu de suas respostas eficazes aos estímulos do mercado mundial e de sua articulação junto às instituições representativas do Estado Imperial. Nesse sentido, a classe senhorial brasileira não foi o resultado do arcaísmo nacional, mas uma expressão da modernidade oitocentista assim como as burguesias da Europa Ocidental e do Norte dos Estados Unidos e as classes senhoriais de Cuba e do Sul dos Estados Unidos, que também se com consolidaram por meio de sua inserção na economia capitalista e nos regimes políticos de seus respectivos Estados.7 O artigo sintetizou parte dos resultados do mestrado e avançou para propor um estudo comparado e integrados das classes dominantes do mundo Atlântico, sob a inspiração de Tomich e Wallerstein. Essa agenda de pesquisa não foi propriamente desenvolvida, mas incorporada como premissa em meu doutorado. Decidi transcender o recorte espacial do mestrado para realizar um estudo sobre a escravidão, as justiças criminais e a pena de morte no Brasil e nos Estados Unidos, a partir da análise de processos criminais do Vale do Paraíba e do Vale do Mississippi – as fronteiras agrícolas produtoras de café e algodão para o mercado mundial no século XIX. Entre os maiores desafios da pesquisa esteve a tentativa de combinar um estudo comparado com a perspectiva integrativa da Segunda Escravidão e do modelo do Sistema Mundo. Primeiramente, recorri aos estudos desenvolvidos por meu orientador e por outros membros do Lab-Mundi, como Tâmis Parron e Waldomiro Lourenço da Silva Junior, que se caracterizavam pelo escopo analítico e pelo recorte espacial ambiciosos. O doutorado de Parron tratou sobre economia política da escravidão no Brasil, nos Estados Unidos e no Império Espanhol, enquanto 7 FERRARO, Marcelo. A Arquitetura da Escravidão nas Cidades do Café. 2017. 272 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidadede São Paulo, São Paulo, 2017; FERRARO, Marcelo. Capitalism, Slavery and the Making of Brazilian Slaveholding Class: A Theoretical Debate on World-System Perspective. Almanack, v. 23, p. 151-175, 2019; MATTOS, Ilmar Rohloff. O Tempo Saquarema: Formação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec, 2011; SALLES, Ricardo. E o Vale era Escravo: Vassouras, Século XIX, Senhores e Escravos no Coração do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008; PARRON, Tâmis. A Política da Escravidão no Império do Brasil, 1826-1865. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

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