31 Marcelo Rosanova Ferraro Silva Junior defendeu sua tese sobre direito, escravidão e alforria no Brasil e em Cuba, ambos dentro dos marcos do longo século XIX.8 Uma das inspirações teóricas de Parron e Silva Junior foi a metodologia elaborada por Philip McMichael, no artigo Incorporating Comparison within aWorld-Historical Perspective: An Alternative Comparative Method. Embora o autor não tenha sido lido nas reuniões do Lab-Mundi, as menções aos seus estudos foram constantes. Além disso, McMichael também se inspirou nos estudos de Wallerstein, a partir da mesma perspectiva crítica de Tomich. Ao elaborar a categoria “comparação substantiva” (“incorporated comparison”), McMichael procurou evitar os vícios analíticos e a-históricos dos estudos comparativos formais e desenvolver uma abordagem capaz de comparar e integrar simultaneamente os objetos de análise. Segundo essa perspectiva, não seria todo que determinaria suas partes e tampouco a comparação formal entre elas seria reveladora de sua complexidade. Em outros termos, McMichael critica as comparações convencionais, que analisam fenômenos em paralelo, e propõe que sejam compreendidos como momentos ou resultados distintos de um processo histórico integrado.9 É preciso reconhecer, contudo, a distância entre a teoria e a prática de pesquisa. Ao longo do doutorado, preservei a premissa de que as experiências históricas analisadas pertenciam a uma mesma temporalidade e estavam conectadas como elementos constitutivos da economia-mundo pós-Revolução Industrial e do sistema interestatal oitocentista. Além disso, incorporei o pressuposto do artigo de 2019 para argumentar que as classes senhoriais brasileira e estadunidense vivenciaram uma experiência Atlântica compartilhada durante a Era das Revoluções, mas encontraram soluções particulares na construção de regimes constitucionais e representativos e das instituições judiciárias em seus territórios. Desse modo, a República Federalista dos Estados Unidos e suas justiças estaduais e o Império do Brasil e sua justiça centralizada foram compreendidos como resultados distintos de um processo histórico integrado, à luz da comparação substantiva de McMichael. Por outro lado, a análise dos padrões distintos de resistência escrava e dos regimes de punição pendeu a uma comparação de natureza formal. A redação da tese demonstrou esse limite. Enquanto a primeira parte foi composta por capítulos que integraram as experiências brasileira e estadunidense na Era das Revoluções, a segunda parte 8 MARQUESE, Rafael. Feitores do Corpo, Missionários da Mente: Senhores, Letrados e o Controle dos Escravos nas Américas, 1660-1860. São Paulo: Companhia das Letras, 2004; SILVA JUNIOR, Waldomiro Lourenço da. Entre a Escrita e a Prática: Direito e Escravidão no Brasil e em Cuba, c. 1760-1871. 2015. 341 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015; PARRON, Tâmis. A Política da Escravidão na Era da Liberdade: Estados Unidos, Brasil e Cuba, 1787-1846. 2015. 502 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. 9 MCMICHAEL, Philip. Incorporating Comparison within a World-Historical Perspective: An Alternative Comparative Method. American Sociological Review, v. 55, n. 3, p. 385-397, 1990.
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