Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

32 Entre a História Comparada e a perspectiva do Sistema Mundo se desdobrou em uma descrição em paralelo das experiências divergentes do Brasil e dos Estados Unidos durante a Crise da Escravidão.10 Após a defesa da tese A Economia Política da Violência na Era da Segunda Escravidão: Brasil e Estados Unidos, 1776-1888 em meados de 2021, publiquei parte dos resultados da pesquisa em um capítulo de livro, intitulado A Economia dos Castigos na Era da Segunda Escravidão: Vale do Paraíba e Vale do Mississippi, Século XIX, e no artigo The Political Economy of Punishment: Slavery and Violence in Nineteenth-Century Brazil and the United States publicado na International Review of Social History em 2023. Em ambos os casos, busquei alcançar os pressupostos da comparação substantiva, mas nem sempre escapando às amarras da comparação formal. A fim de enfrentar novamente esse desafio, desenvolvi um novo projeto. Durante um pós-doutorado realizado nas Universidades de Brown e de Harvard entre 2021 e 2023, expandi o escopo da pesquisa anterior para desenvolver um estudo comparado e integrado sobre a intersecção entre escravidão, justiça criminal e violência racial no Brasil, em Cuba e nos Estados Unidos durante o longo século XIX.11 O título provisório desse projeto de livro é The Politics of Racial Violence in the Americas: Slavery, Citizenship, and Criminal Law in Brazil, Cuba, and the United States, 1776-1912. A experiência adquirida durante o doutorado encorajou a análise comparada das fontes de cada território de forma atenta às particularidades de cada experiência histórica, mas dentro de uma matriz interpretativa que as compreenda como partes de um mesmo todo em formação. Os primeiros capítulos descrevem da experiência integrada das sociedades e economias escravistas de Matanzas, do Vale do Paraíba e do Vale do Mississippi em suas conexões com o mercado mundial, assim como a atuação das classes senhoriais de cada região junto às instituições políticas e judiciárias do Império Espanhol, do Império do Brasil e da República dos Estados Unidos. A expansão das fronteiras agrícolas naqueles territórios trouxe consigo centenas de milhares de africanos e afrodescendentes escravizados, que deram início a ondas de resistência durante a primeira metade do século XIX. Nos casos brasileiro e hispano-cubano, foram africanos vitimados pelo tráfico 10 FERRARO, Marcelo. A Economia Política da Violência na Era da Segunda Escravidão: Brasil e Estados Unidos, 1776-1888. 2021. 438 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2021. 11 FERRARO, Marcelo. A Economia Política da Violência na Era da Segunda Escravidão: Brasil e Estados Unidos, 1776-1888. 2021. 438 f. Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2021; FERRARO, Marcelo. The Political Economy of Punishment: Slavery and Violence in Nineteenth-Century Brazil and the United States. International Review of Social History, v. 68, p. 197-212, 2023; FERRARO, Marcelo. A Economia dos Castigos na Era da Segunda Escravidão: Vale do Paraíba e Vale do Mississippi, Século XIX. In: SILVA, Lúcia; RODRIGUES, Jaime; SOUZA, Airton (org.). Escravidão e Liberdade: Estudos sobre Gênero & Corpo, Memória & Trabalho. São Paulo: FFLCH, 2023. p. 141-166.

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