36 A morfologia histórica do escravismo Atlântico Leonardo Marques Waldomiro Lourenço da Silva Júnior1 Os dois autores do presente capítulo tiveram a alegria de participar dos primeiros anos de atividade do Laboratório de Estudos sobre o Brasil e o Sistema Mundial (Lab-Mundi), na USP, quando estavam nos anos finais de seus respectivos doutorados. Resgatar a memória das leituras, dos encontros e das discussões que ali participamos ultrapassa a fronteira da consciência e da razão. Mobiliza também emoções e faz aflorar a saudade de um período que deixou marcas profundas, marcas que, quando convertidas em palavras, só podem ser conjugadas no passado perfeito contínuo, aquele tempo verbal que expressa uma ação iniciada no passado, e que ainda não se encerrou, como evidenciado por nossas pesquisas individuais e coletivas. O Lab-Mundi constituiu, desde o seu primeiro dia, um espaço estimulante e desafiador, aberto a reflexões e propício a importantes aprendizados, no qual ideias e hipóteses são lançadas e postas à prova de maneira ao mesmo tempo aguerrida e ética. Em sua dinâmica, é revelada aos envolvidos toda a potencialidade de um laboratório, na medida em que promove a experimentação, a liberdade de pensamento e o aprofundamento qualificado no campo específico de estudos no qual se situa. Nas páginas a seguir, refletiremos sobre uma linha interpretativa específica relativa ao fenômeno da escravidão no mundo Atlântico, tema de estudos ao qual temos nos dedicado ao longo das últimas duas décadas. Ao fazê-lo, dialogaremos com a massa crítica constituída no âmbito do Lab-Mundi, especialmente no que diz respeito ao que poderíamos chamar de uma história sistêmica e relacional. O objetivo é lançar algumas pistas adicionais em torno do que chamaremos aqui de morfologia histórica do escravismo Atlântico, considerando seu caráter ao mesmo tempo variável e de longa duração. A morfologia diz respeito ao estudo dos elementos constitutivos, formas e características. Na linguística, a morfologia se concentra na investigação 1 A contribuição de Waldomiro Lourenço da Silva Júnior a este texto é resultado de suas atividades de pesquisa na Cátedra UNESCO de Esclavitudes y Afrodescendencia, Proyecto PID2021-128935NB-I00, financiado por MCIN/ AEI /10.13039/501100011033/ y por FEDER. DOI: https://doi.org/10.29327/5450727.1-4
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