Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

61 Alexandre Moreli tória Política e Militar.1 Através das referidas propostas teóricas de Koselleck, entretanto, parece surgir um enorme potencial para que revelem, antes mesmo de os canhões silenciarem, um entendimento da guerra como contendo vários passados. Ainda sob um crivo kosellequiano, surgem igualmente tais Comitês como observatórios de um futuro que a desejada vitória poderia proporcionar. Em todas essas possibilidades, escapa-se aos clássicos e hegemônicos cortes cronológicos que utilizam o ano de 1945 como de suposto fim de uma totalidade de processos históricos e início de diferentes outros ligados à paz, quando não à Guerra Fria. Evita-se, assim, ademais, submeter a pluralidade dos tempos históricos ao jugo de um simples ato de armistício. O que foram tais Comitês de Planejamento sobre o futuro? As propostas kosellequianas são de alguma valia para estudá-los? Conseguimos, através das propostas teórico-metodológicas do historiador alemão, entender as relações e os sentidos de evolução dos processos de declínio dos impérios britânico e português e de ascensão da potência americana presentes nos Comitês? Sobretudo, as atividades de tais Comitês ensinam algo sobre as relações entre esses processos? Sobre sua complementaridade ou rivalidade? Tais questões surgem, neste texto, como desafios a serem enfrentados, mas, sobretudo, como sugestões programáticas para historiadores das relações internacionais estudarem as relações dialógicas entre a guerra e as comunidades políticas, econômicas e culturais nela envolvidas. A semântica histórica da experiência e as categorias de análise kosellequianas Seguindo, portanto, as lições de Koselleck, lançaremos mão de um exercício de articulação dos entendimentos de presente e futuro registrados em documentos oficiais confidenciais dos Comitês de Planejamento de Pós-guerra de dois dos governos beligerantes da Segunda Guerra Mundial em íntima relação no período: o americano e o britânico. No mesmo estudo, será proposta uma análise de compreensão da realidade passada das relações anglo-americanas manifestada nesses registros a partir do emprego das categorias meta-his1 Sobre o caso da Segunda Guerra Mundial, ver: SHERRY, M. The Rise of American Air Power. The Creation of Armageddon. New Haven: Yale University Press, 1987; LEFFLER, M. A Preponderance of Power. National Security, the Truman Administration, and the Cold War. Stanford: Stanford University Press, 1992; STOLER, M. Allies and Adversaries. The Joint Chiefs of Staff, the Grand Alliance, and U.S. strategy in World War II. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2000; LEWIS, J. Changing Direction. British Military Planning for Post-War Strategic Defense, 1942-1947. 2. ed. Nova Iorque: Routledge, 2005.

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