Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

63 Alexandre Moreli Em suma, cabe salientar não haver imediatismo e singularidade total nos fenômenos do planejamento de pós-guerra ou mesmo da experiência do guerrear. Há processos e dinâmicas que, naqueles instantes, manifestam-se sem serem percebidas pelos atores históricos, guiando-os apesar deles mesmos. Ao se lançar mão de tal sensibilidade, escapa-se à cronologia natural e valorizam-se os tempos históricos, o que apenas preenche com mais cores os objetos do planejamento de pós-guerra. Finalmente, tomaremos a guerra como um evento “de significado estrutural”, ainda segundo Koselleck.4 De fato, dado o nosso nível de investigação, interessados nas manifestações e repercussões dos Comitês, tomaremos a própria conjuntura totalizante da Segunda Guerra Mundial como de maior extensão temporal e de síntese dos constrangimentos das ações de seus integrantes. Seriam, então, na verdade, as atividades dos Comitês “eventos” em diálogo com os condicionantes impostos por um conflito bélico claramente moldado pela fase avançada da era industrial (a tecnologia atômica sendo mais um estágio acelerador do tempo histórico). Ademais, trata-se de um evento, a guerra, marcado pelo radicalismo da condição humana, com a característica de expor as mais profundas entranhas de processos históricos que, em sua ausência, podem escapar a uma investigação histórica desavisada. É um fenômeno que destaca e potencializa a consciência histórica dos atores ao mesmo tempo em que ressalta as estruturas que os constrangem. Tal entendimento complementar do que seria um conflito armado entre entidades políticas é importante para uma mais pormenorizada análise da guerra como um espaço de experiência. Cabe, então, através dos referidos Comitês, estudar o peso das articulações temporais das dimensões do passado e do futuro na dinâmica da saída de guerra e das preparações para ela vindas de centros de poder como Washington e Londres. Ainda que o “espaço de experiência” da guerra aparente estar limitado cronologicamente, ele articula diversas temporalidades e processos, como o da decadência das formas imperiais de se organizar comunidades políticas ou ainda o da aceleração da industrialização e da urbanização. Sobre agências e constrangimentos Durante os momentos turbulentos da eclosão da guerra na Europa, em 1939, a Península Ibérica optou pela neutralidade, apesar de viver sob regimes inspirados no fascismo. Não obstante o patrocínio inicial de tal posição, o governo britânico nunca permaneceu tranquilo. Para muitos em Londres, mais do que apenas um território europeu, a região era um meio de projetar 4 KOSELLECK, op. cit., p. 133-141.

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