64 A semântica histórica da experiência e as categorias de análise de Koselleck no estudo das dinâmicas de transição em grandes potências poder sobre o Atlântico lusófono e hispanófono, incluindo o norte e o sul do oceano, bem como os continentes americano e africano.5 Tomando essas áreas e populações como pertencentes à sua zona de influência, os cenários de guerra considerados pelas autoridades em Londres foram os de Portugal e Espanha eventualmente entrando no conflito ou sendo invadidos pelos alemães. Essas preocupações aumentaram com a queda da França e levaram a negociações para reforçar a neutralidade já em 1941, como com Lisboa sobre a evacuação do gabinete do ditador Oliveira Salazar para o arquipélago dos Açores em caso de invasão da capital.6 Meses depois, ainda que a entrada dos Estados Unidos no conflito tenha trazido algum alívio ao esforço de guerra britânico, ela se tornou, também, uma preocupação adicional nas avaliações de Londres sobre a manutenção de sua projeção sobre o Atlântico. Entre as muitas discussões sobre estratégia comum na conferência anglo-americana realizada entre dezembro de 1941 e janeiro de 1942, logo após Pearl Harbor, tomou-se uma importante decisão sobre as responsabilidades pelos assuntos portugueses e pelo espaço atlântico. O presidente americano, o primeiro-ministro britânico e os seus chefes de Estado-Maior discutiram, então, a grande importância das zonas lusófonas e, em particular, de arquipélagos atlânticos, como os Açores e Cabo Verde, para a proteção dos comboios Aliados de suprimentos que atravessavam o oceano. No entanto, por falta de meios para levar a cabo diversas operações militares simultaneamente, decidiram proteger apenas a rota mais ao norte do Atlântico (e assim escudar a Islândia e a Irlanda do Norte) e não as ilhas portuguesas.7 Mais importante ainda foi a decisão de nada alterar quanto ao entendimento de Portugal como parte da esfera de influência britânica. O governo de Washington deu seu explícito acordo nesse sentido, deixando com o governo de Londres a responsabilidade geral pela condução dos assuntos internacionais Aliados relativos a Lisboa. No rescaldo de Pearl Harbor, os americanos ocupavam-se de uma estratégia global em que o Oceano Pacífico ganhava importância. Nesse contexto, e para evitar o agravamento dos conflitos já existentes entre o Estado-Maior Americano (Joint Chiefs of Staff – JCS) e o Estado-Maior Britânico (Chiefs of Staff – COS) sobre a condução da guerra, 5 STONE, G. The Oldest Ally: Britain and the Portuguese Connection, 1936-1941. Suffolk: The Royal Historical Academy, 1994. p. 157-181. 6 TELO, A. Portugal na Segunda Guerra. Lisboa: Perspectivas e Realidades, 1987. p. 325-329. Para o caso espanhol, ver: TUSSEL, J. Franco. España y la II Guerra Mundial. Entre el Eje y la neutralidad. Madri: Temas de Hoy, 1995. 7 National Archives of the United Kingdom (doravante NAUK). CAB 121/150. Washington War Conference between the UK and the USA, December 1941-January 1942. Record of the CCS Meetings, 24 et 26/12/41 and Record of the 9th Meeting, 1/12/42.
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