Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

65 Alexandre Moreli o governo dos Estados Unidos decidiu não desenvolver estudos relativos à utilização de territórios sob domínio português.8 Apesar da decisão, a desconfiança americana quanto à estratégia global britânica perdurou. Segundo Mark Stoler, essa percepção estava embutida em uma verdadeira “anglofobia”, que remontava à Grande Guerra.9 A atitude do governo americano relativamente aos territórios portugueses evitava então acrescentar uma tensão adicional às relações anglo-americanas, permitindo a Washington concentrar os seus esforços no reforço das escoltas dos comboios transatlânticos. Considerando também a prioridade em se evitar a dominação alemã da Europa, bem como a sobrevivência da Grã-Bretanha como parte crítica de tal estratégia, as preocupações de guerra prevaleceram, colocando a vitória contra o Eixo como objetivo máximo e praticamente exclusivo daquele instante. A linha divisória entre o presente e o futuro era então demasiado larga para que surgissem visões de um mundo remodelado. Os britânicos, por sua vez, continuaram a conduzir conversações secretas com os portugueses ao longo de 1942, ajudando-os a desenvolver um sistema de proteção militar para as ilhas atlânticas.10 Contudo, devido às deficiências técnicas de Portugal na criação e manutenção desse sistema defensivo, corria-se o risco de se desperdiçar recursos materiais e, ao mesmo tempo, persistirem as fragilidades defensivas dos arquipélagos.11 “De que adiantará ter uma pista de pouso toda abastecida de combustível no meio do Atlântico se não tivermos permissão para usá-la?” perguntavam os membros da missão militar britânica responsável pelas conversas com os seus homólogos em Lisboa em 1942.12 Além de dominar a atenção britânica sobre a guerra no Atlântico no curto prazo, tais questões reforçavam a opinião em certos círculos militares, mas também entre aqueles que começavam a se preocupar com o futuro da aviação civil internacional, de que a presença de forças britânicas no Açores era necessária. Aeródromos e instalações aeronáuticas tornavam-se críticas para a guerra, mas também para o mundo do pós-guerra devido ao problema capital, mas ainda não resolvido, dos direitos comerciais de trânsito e de escala. De fato, à medida que os Aliados preparavam a invasão do Norte de África 8 Ibid. (ver, também: Franklin Delano Roosevelt Presidential Library (doravante FDRPL). Franklin Roosevelt Papers. The President’s Secretary’s File – caixa 152. OSS: Reports Azores Islands. Memorandum de 15/12/41, MacDonald-Donovan). 9 STOLER, op. cit., p. 8, p. 21, p. 28, p. 37, p. 68. 10 NAUK. FO 371/31134. Notas de 10/3/42, War Cabinet e telegrama n° 685 de 22/4/42 Campbell- -FO. FO 371/31139. Observações de 27/4/42, Roberts. 11 NAUK. FO 371/31135. Notas APP 8 (Review) de 16/9/42, War Cabinet eTélégramme C11959/80/G de 11/12/42, Strang-Campbell. 12 VINTRAS, R. The Portuguese Connection. The Secret History of the Azores Base. Londres: Bachman & Turner, 1974. p. 41.

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