66 A semântica histórica da experiência e as categorias de análise de Koselleck no estudo das dinâmicas de transição em grandes potências (Operação Torch), e as suas contraofensivas afastavam os submarinos alemães (fazendo-os operar principalmente no Atlântico Norte), a ideia das ilhas como base logística no meio do oceano tornou-se crítica.13 Ainda mais consequente, ao longo dos meses seguintes, para a administração e os interesses comerciais em Londres, os Açores transformavam-se em um instrumento de reorganização do mundo do pós-guerra. De forma geral, os britânicos começavam a preparar uma estratégia abrangente tomando como premissa, para a proteção de seus interesses no campo da aviação, uma ação coordenada entre as forças do Império Britânico, de seus Domínios e de certos aliados, como Portugal. O que ali surgiu foi um horizonte em que não só os impérios português e britânico sobreviveriam em um futuro moldado pelo passado, mas também a cooperação histórica e privilegiada entre eles.14 No entanto, ocupar tais territórios insulares exigiria, primeiramente, considerar o preço a pagar para mudar a posição de Portugal na guerra. William Strang, chefe do Departamento Central do Foreign Office, onde eram tratados os assuntos portugueses, atentara para essa questão já em abril de 1942. Para ele, os britânicos só deveriam engajar com os portugueses tendo meios para compensá-los financeiramente quando buscassem se instalar militarmente na Península, no Norte de África e nas ilhas atlânticas simultaneamente, condição inexistente na altura (e que assim permaneceria durante vários meses).15 Mesmo o sucesso de Torch e as suas primeiras vitórias nas derradeiras semanas de 1942 não alteraram tal realidade. Embora um esboço de política geral sobre o futuro da aviação civil internacional começasse a surgir nos comités de planeamento do pós-guerra e os militares continuassem a recomendar o reforço das instalações de defesa nos Açores pelos próprios portugueses, o War Cabinet britânico, órgão decisório máximo no tempo da guerra, decidiu manter a neutralidade da Península como um imperativo para preservar Gibraltar até que a situação na África pudesse ser definitivamente resolvida.16 As perspectivas estavam mudando, entretanto, do outro lado do oceano. Um ano depois de Pearl Harbor, com soldados na África (esperados, em breve, na Europa), com perdas na Batalha do Pacífico provocando o bloqueio das rotas de abastecimento, mas, principalmente, com o objetivo de definir uma forma para o novo sistema de segurança internacional, Roosevelt e o JCS acabaram mudando suas visões sobre o Atlântico (norte e sul) e sobre a 13 TELO, A. Os Açores e o controlo do Atlântico, 1898-1948. Lisboa: Asa, 1993. p. 359-362. 14 DOBSON, A. Peaceful Air Warfare. The United States, Britain, and the Politics of International Aviation. Oxford: Oxford University Press, 1991. p. 130; LEWIS, J. Changing Direction. British Military Planning for Post-War Strategic Defense, 1942-1947. 2. ed. Nova Iorque: Routledge, 2005. p. 142. 15 NAUK. FO 371/31142. Observações de 21/4/42, Strang. 16 NAUK. FO371/31147. Memorandumde 17/11/42,Williams ao Central Department. CAB 121/503. Memorandum 43/7 de 4/1/43, do Joint Planning Staff-GB e carta de 5/1/43, Hollis-Harrison.
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz