71 Alexandre Moreli Do lado americano, críticas às iniciativas vindas de Washington por parte de seus diplomatas servindo em Lisboa pareciam confirmar as desaprovações britânicas. Para eles, entendendo necessário negociar com a ditadura portuguesa, parecia haver um desequilíbrio entre as crescentes ambições americanas e o domínio dos meios e conhecimentos para as concretizar. A forma impetuosa, porém, com que o governo de Roosevelt levou adiante seus planos, ignorando Londres, seus próprios diplomatas em Portugal e agindo como se o império português não fosse sobreviver à guerra ilumina, na verdade, diferentes formas delineando o horizonte de expectativas em Washington. A experiência de guerra transformada no planejamento do pós-guerra entre 1942 e 1945 entendia Salazar como representante de um regime dispensável e de um império arcaico.34 De fato, a partir da decisão de criar Comitês de Planejamento de Pós- -guerra com agendas distintas, diferentes também passaram a ser boa parte dos espaços de experiência de americanos e britânicos, acentuando suas rivalidades mesmo se unidos umbilicalmente na luta contra o nazi-fascismo. Os igualmente distintos horizontes de expectativa, porém, seriam apenas parcialmente convertidos em experiências em ambos os lados do Atlântico. Enquanto os Estados Unidos impuseram-se sobre o espaço oceânico (uma base começaria a ser construída nos Açores em 1944), acabariam por sobreviveriam à guerra os impérios português e britânico. Seria, sobretudo, a ação dos movimentos pelas independências e pela descolonização a abater tal futuro passado. Conclusões Inspirados pelos trabalhos de Koselleck sobre Teoria da História e do Tempo Histórico, argumentamos ser possível analisar disputas entre diferentes entendimentos de presente e futuro emanando dos estudos americanos e britânicos de planejamento de pós-guerra, relativizando argumentos de que teria existido apenas uma simples rivalidade imediata e instantânea entre grandes potências pelos espólios da guerra. Apesar de viverem um aparente mesmo “espaço de experiência” do presente do conflito, os muitos estratos temporais envolvidos nos trabalhos de conformação de um mundo atlântico do futuro produziram “horizontes de expectativas” distintos em cada reflexão nacional.35 34 Nesse sentido, ver, também: GARDNER, op. cit., p. 126-128; WEINBERG, op. cit., p. 191-195. 35 Sobre estratos do tempo, ver: KOSELLECK, R. Estratos do Tempo: estudos sobre história. Rio de Janeiro, Contraponto, 2014 [2000]. cap. 1.
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