Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

75 Estado imperial e classe senhorial entre dois tempos históricos Bruno da Fonseca Miranda1 Em 1940, Marc Bloch, em plena Segunda Guerra Mundial, tentou entender a acachapante e surpreendentemente rápida derrota francesa frente às tropas alemãs. Nessa tarefa intelectual, pôs-se a redigir um texto que por pouco não se perdeu em uma das infindáveis buscas policiais do regime colaboracionista de Vichy. A primeira publicação do relato de Bloch saiu apenas em 1946 em forma de livro, mas sua análise só se popularizou na década de 1960. Entre as razões da derrota francesa, o historiador afirmou que Quando vimos os alemães lutarem sua guerra, não soubemos ou não quisemos compreender seu ritmo, adequado às vibrações aceleradas de uma nova era. Tanto que, na verdade, foram os adversários pertencentes cada um a uma época diferente da humanidade que se enfrentaram em nossos campos de batalha. Em resumo, repetimos os combates da zagaia contra o fuzil, familiares à nossa história colonial. Só que dessa vez éramos nós que desempenhávamos o papel de primitivos.2 A imagem registrada por Bloch, escrita no calor da guerra, é viva, cheia de significados e repleta de possibilidades de interpretação. Uma delas é sobre o convívio entre distintas temporalidades históricas em um determinado presente. Escrito para tentar compreender sua contemporaneidade, materializada justamente no poder destrutivo de uma guerra, o relato do historiador francês passa a ideia de que os tempos históricos não apenas convivem, mas colidem entre si produzindo, por sua vez, uma determinada realidade social. É em torno dessa ideia que o presente texto gira. A hipótese, que parte do relato de Bloch, busca respaldo em um texto seminal escrito por Reinhart Koselleck. Segundo o autor alemão, faz-se necessário um tratamento teórico do tempo para a composição do saber histórico. Sem iss ciência da história, 1 Doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo. 2 Cf. BLOCH, Marc. A estranha derrota. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.42. DOI: https://doi.org/10.29327/5450727.1-7

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