Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

80 Estado imperial e classe senhorial entre dois tempos históricos peram numa nova onda abolicionista pelo país dando força e coesão ao primeiro movimento social brasileiro.19 Os escravistas, por seu turno, aferraram- -se na vereda de protelação contida na essência da lei de 1871. Já que o futuro inevitavelmente se efetivaria sem a existência da escravidão, amadureceram a ideia de que os anos vindouros deveriam ser formatados de acordo com os desígnios da classe. É nesse sentido que passaram a sustentar a concepção eugenista da imigração. Uma dupla solução para eles já que funcionaria tanto como forma de suprir a ausência da mão de obra no país, quanto como instrumento para diminuir a existência da população negra no Brasil.20 Mas nem tudo era consenso, os proprietários de escravos conheceram uma profunda mudança na classe da qual faziam parte. A classe senhorial escravista cingiu- -se enquanto grupo dominante em virtude dos diferentes lugares que seus membros ocupavam no Estado, uma divisão que foi ficando cada vez mais clara entre fluminenses e paulistas com o passar dos anos. Alguns chegaram a pregar abertamente a ineficiência do arranjo institucional do Estado imperial brasileiro e a sugerir a sua supressão. A nacionalização do abolicionismo e a regionalização do escravismo contribuíram sobremaneira para a fratura entre os tempos históricos em convívio desde a formação do Estado nacional brasileiro. A resultante desse processo foi dupla. Em primeiro lugar, o distanciamento paulatino entre o Estado e a classe senhorial escravista, além de contribuir para a cisão na própria classe, culminou na destruição do Império e na edificação da República. Em segundo, a idealização de um futuro sem escravidão, possibilitou a consecução do trabalho de uma mão de obra livre (não mais exclusivamente negra) sob as coerções herdadas do cativeiro. O tempo da abolição suplantou o da escravidão e legou ao passado brasileiro, no final do século XIX, toda a ideologia do trabalho livre gestada pelo abolicionismo. Referências ALONSO, Angela. Flores, votos e balas. O movimento abolicionista brasileiro (1868-1888). São Paulo: Companhia das Letras, 2015. RETTI, Danilo José Zion publicação de “A cabana do Pai Tomás” no Brasil escravista. O “momento europeu’ da edição Rey e Belhatte (1853). Varia História, v. 33, n. 61, p.189-223, 2017. 19 Cf. ALONSO, Angela. Flores, votos e balas. O movimento abolicionista brasileiro (1868-1888). São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 20 Cf. SKIDMORE, Thomas. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. BASTIDE, Roger; FERNANDES, Florestan Brancos e negros em São Paulo: ensaio sociológico sobre aspectos da formação, manifestações atuais e efeitos do preconceito de cor na sociedade paulistana. 4. ed. São Paulo: Global, 2008.

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