85 Camilla Cristina Guelli Obes no empreendimento para a Junta de Buenos Aires, formada em 1810, ser reconhecida pela de Montevidéu, a primeira junta da América espanhola estabelecida em 1808. Contudo, sua atuação não se conteve às margens imediatas do Rio do Prata. Quando da segunda invasão portuguesa da Banda Oriental em 1816, Obes alinha-se à administração portuguesa e seu projeto de dominação da região. Chegando a, em 1821, ser eleito deputado às Cortes de Lisboa. Consequentemente, ao circular entre acontecimentos anteriores e concomitantes às independências políticas dessas três regiões, o portenho possibilita acompanharmos esses processos de independência através de um espaço fluido no qual sua trajetória, em certa medida, formou e nos ajuda a pensar nesses centros como partes de um “espaço de experiência revolucionário moderno”5. Assim, ao circular entre múltiplos projetos aos quais ele construiu, colaborou ou combateu, Lucas Obes não só fez parte de uma experiência histórica revolucionária, como a constituiu dentro de um espaço em conexão. Neste sentido, a demanda teórico-metodológica que possibilitasse aprofundar o entendimento de como e por quais meios a ação do indivíduo é perpetrada foi imprescindível. É a partir desta necessidade que o objetivo deste texto está alinhado. Para isso, sua estrutura consiste em apresentar as categorias esquemas, recursos e agência de Sewell e experiência e expectativa de Koselleck, as quais serão relacionadas entre si e cotejadas com três objetivos da pesquisa apresentada acima. O primeiro objetivo é capturar mecanismos de manutenção e construção de posições políticas e sociais de Lucas Obes através da sua articulação e presença em diversos projetos e contextos distintos; salientados pelo contexto de esgarçamento das formas conhecidas de vida que caracteriza a crise.6 O segundo é analisar a maneira pela qual um conjunto de experiências foi apropriado e afetou as expectativas de futuro de um membro da elite política e econômica ibero-americana personificado em Lucas Obes. É importante salientar que sua posição social e política era partilhada por outros, logo, nos abre horizontes de compreensão sobre o grupo ao qual pertencia. E por fim, o terceiro objetivo de pesquisa beneficiado por estas reflexões: colaborar com a compreensão de como um espaço de “experiência revolucionário moderno” foi constituído e explorado por Obes, e outros, através da circulação entre múltiplos projetos em disputa. 5 Expressão e reflexão desenvolvida por J. P. Pimenta em: PIMENTA, João Paulo. Tempos e espaços das independências: a inserção do Brasil no mundo ocidental (c. 1780-1830). São Paulo: Intermeios, 2017. p. 10-12; 23 et passim, as quais serão explicitadas adiante. 6 A concepção de crise baseia-se nas reflexões de JANCSÓ, István. Independência, independências. In: JANCSÓ, István. (org.). Independência: história e historiografia. São Paulo: Hucitec; Fapesp, 2005. p.17-48 e JANCSÓ, István. Na Bahia, contra o império: história do ensaio de sedição de 1798. São Paulo: Hucitec, 1996.
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