Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

86 Esquemas, recursos e agência em Sewell Jr.: uma proposta teórico-metodológica para a pesquisa biográfica “Esquemas”, “recursos” e “agência” A teoria da estrutura de Sewell Jr elaborada através das categorias recursos e esquemas demonstrou-se um caminho profícuo para nortear a leitura dos caminhos políticos apresentados a Obes e por ele seguidos. A partir da construção teórica do autor estadunidense, esquemas são as normas, regras de convívio e de relações sociais, assim como noções de mundo que indivíduos de determinada sociedade compartilham, e assim constituem a estrutura. Já os recursos podem ser de natureza humana ou não humana. Em uma relação dialética com os esquemas, são meios de poder, e como tais, distribuídos desigualmente. O recurso humano pode ser as capacidades intelectuais e físicas ou o poder simbólico de um padre ou de um diploma em direito, que o Obes possuía; além de suas conexões entre redes familiares, comerciais e políticas. Em contrapartida, os recursos não humanos estão vinculados a objetos ou não, podem ser manufaturados, como armas e maquinário de produção, ou simplesmente sujeito a posse, como a terra. Para Obes, especificamente, são o maquinário de produção e meios de comércio, como o seu barco e a sua indústria de sabão.7 Através dos “axiomas-chave” de sua teoria da estrutura, Sewell Jr. sedimenta as características de suas categorias de análise esquemas e recursos. Três desses axiomas foram selecionados como pontos de convergência para a pesquisa que são: a imprevisibilidade da acumulação de recursos, polissemia de recursos e transponibilidade dos esquemas. A partir da imprevisibilidade da acumulação de recursos, é definido que recursos humanos e não humanos não possuem garantia de se manterem indefinidamente no decorrer do tempo. O segundo, a polissemia de recursos, esclarece que os recursos são passíveis de interpretação e manejo diversos por distintos atores e de múltiplas maneiras. Um terceiro, o da transponibilidade dos esquemas, permite qualificar esquemas como maleáveis que podem ser aplicados em circunstâncias diversas, e, em especial, possibilita a modificação do esquema transposto a partir da transposição.8 Para a construção do axioma da transponibilidade, o acadêmico dialoga com Pierre Bourdieu e esclarece aos seus leitores de língua inglesa, idioma original do texto, que o significado de transpor deve ser tomado a partir do da língua francesa, transposer, o qual está vinculado à capacidade de mudança de forma e de conteúdo, à possibilidade de alterar de domínio. Sendo assim, transpor consiste em uma transformação dilatada quando comparada ao sen7 MHN-PBA-L30 22/05/1812 8 SEWELL JR., W. H. Uma teoria da estrutura. Dualidade, ação e transformação. In: SEWELL JR., W. H. Lógicas da história: teoria social e transformação social. Trad. Caesar Souza. Petrópolis: Vozes, 2017. p. 147-149.

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