Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

87 Camilla Cristina Guelli tido do verbo em inglês, pois, neste caso o verbo encerra seu sentido na mudança de lugar ou tempo, a transição não modificaria o transposto como tal, não o alteraria em si.9 A partir dessa orientação, Sewell abre espaço para a definição de transponibilidade associada à capacidade criativa dos sujeitos históricos: ao manejar criativamente esses esquemas a ação pode ser perpetrada. Portanto, se a agência pode ser definida também a partir da capacidade de transposição e levar esquemas a contextos diferentes da sua composição inicial é possível, então, que esquemas antes conhecidos e estabelecidos sejam transpostos para outras dimensões e modificados quando desta transposição. Sendo assim, esquemas ganham novos significados através da ação de determinado indivíduo ou coletivo.10 Ao “reinterpretar e mobilizar um arranjo de recursos em termos de esquemas culturais diferentes daqueles que inicialmente constituíam o arranjo” o ator exerce a sua criatividade para modificar a realidade a sua volta.11 Em suma, no processo de transposição dos esquemas que o indivíduo exerce a criatividade. Em outras palavras, ao manejar criativamente esses esquemas o sujeito age, exerce a sua agência. Contudo, a agência para Sewell não é equânime. Através das categorias analíticas de recursos humanos e não humanos como meios de exercício e manejo de poder diversamente distribuídos sua proposta de história social é construída. 12 Neste sentido, ao hierarquizar a agência consoante o acesso a recursos, o autor nos possibilita alargar a compreensão de Obes, comerciante e membro da elite econômica, política e social, como agente privilegiado nos entremeios dos quadrantes platino e brasileiro. Filho de um hierarca espanhol, vinculado aos principais grupos sociais e centros políticos e econômicos do Prata, o portenho possuiu acesso privilegiado aos recursos humanos e não humanos do tempo histórico ao qual esteve inserido. Seus negócios abarcavam um amplo escopo espacial, possuía relações comerciais com britânicos, um navio negreiro que traficava com Brasil, Cuba e África, ademais um armazém naval que recebia navios luso-brasileiros, norte-americanos e britânicos.13 Seus vínculos sociais o interligaram a espaços privilegiados de decisão. Sua longa trajetória política que remonta aos impérios coloniais espanhol e português e pelo império brasileiro chega ao Uruguai Republicano pode ser explicada exatamente através de seus conhecimentos e manejo de esquemas e recursos. 9 Ibidem, p. 147-148 nota 8. 10 Ibidem, p.148. 11 Ibidem, p. 149. 12 Ibidem, p. 140. 13 ALONSO, Rosa et al. La oligarquía oriental en la Cisplatina. Tacuarembó; Colonia: Pueblos Unidos, 1970. p. 220.

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