88 Esquemas, recursos e agência em Sewell Jr.: uma proposta teórico-metodológica para a pesquisa biográfica Essa proposição teórica, portanto, possibilita explicar como e por quais mecanismos Obes manteve o cargo de procurador que exerceu durante a dominação brasileira no governo independente, alternando-o com o do Ministério da Fazenda, apesar das divergências políticas que acompanharam seus caminhos e as conjunturas às quais esteve inserido em cada uma dessas situações.14 Sendo assim, propomos que o descrito está relacionado à capacidade ampliada de Obes em compreender os esquemas e à ação de transpô-los para contextos e realidades distintas, circulando em diversos conjunturas e governos, recuperando posições e criando novas. Ao evidenciar a imprevisibilidade de acumulação de recursos e a transponibilidade de esquemas, a teoria da estrutura de Sewell descortina possibilidades de interpretação dos caminhos do personagem portenho, já que sua trajetória esteve associada aos recursos e esquemas que possuía e aos quais ele manejava em uma conjuntura de desmonte e construção de novos recursos e esquemas. Lucas Obes está, assim como outros homens dessa época, manejando recursos políticos, sociais e de poder através de recursos aos quais possuía acesso privilegiado e esquemas que conhecia, uma vez que a agência se expande e efetiva proporcionalmente à posição do indivíduo no arranjo social.15 “Agência”, “experiência” e “expectativa” A definição de agência como capacidade criativa dos indivíduos em manejar esquemas e recursos permite propor uma aproximação de Sewell Jr. com a teoria de Rainhart Koselleck.16 Neste sentido, sugerimos uma análise de como as experiências e as expectativas propostas pelo autor alemão viabilizavam a criatividade que engendrava ações em determinadas conjunturas, e como essas experiências e expectativas, dialeticamente, fazem parte de recursos e esquemas e, ao mesmo tempo, agregam recursos e esquemas ao contexto social. Assim, um estudo de como as experiências e as expectativas do agente viabilizavam a criatividade que tece ações em determinadas conjunturas. Portanto, através da teoria de Sewell Jr., podemos pensar como Obes propõe mudanças, se posiciona e navega através do tempo histórico. João Paulo Pimenta afirma que as independências ibero-americanas se configuram como uma experiência histórica cujos desdobramentos estão relacionados a leituras da história e leituras do mundo. Partes dessas experiências, essas leituras permitem àqueles que delas participam formas possíveis de ação através de um arcabouço crítico que indicam caminhos e possibilidades. 14 PIMENTA, op. cit., 2006, p. 170; ALONSO et al., p. 180. 15 SEWELL JR., op. cit., 2017b, p. 158. 16 Ibidem, p. 150-151.
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