Sistemas, tempos e espacos: o Lab-Mundi em dez anos de fazer historiográfico

95 Paoli e a Córsega na Era das Revoluções. Múltiplas perspectivas para a historiografia revolucionária Daniel Gomes de Carvalho Introdução “Não houve um único acontecimento no Mediterrâneo a que não estivesse ligado um corso”.1 Essa afirmação, construída à luz das dinâmicas do Mediterrâneo durante o longo século XVI, sem grandes dificuldades poderia ser transposta para a transição do século XVIII para o século XIX, a Era das Revoluções. Com efeito, o primeiro nome que vem à mente é o de Napoleone di Buonaparte. Filho dos “paolistas” Carlo e Letizia Bonaparte, o jovem corso transferiu-se para a França para estudar em Autun e, posteriormente, em Brienne, logo tendo seu destino entrelaçado com os eventos revolucionários. Não obstante, se a história de Napoleão é de amplo e indiscutível (re)conhecimento, outro corso revolucionário, Pasquale Paoli (1725-1807), o “babbu di a Patria” (o pai da pátria), não teve a merecida atenção na historiografia. Em contraste, na própria época, sua importância para as revoluções era evidente. Isso se reflete na presença de três cidades chamadas Paoli nos Estados Unidos—no Colorado, Indiana e Pensilvânia—indicando que a Revolução Corsa e seu proeminente líder, Paoli, serviram como modelo e inspiração para a independência americana. Em 1780, jornais em Nova Iorque e Connecticut publicavam a seguinte nota a uma biografia do líder corso: “o caráter do General [Paoli] e do nosso ilustre Comandante em Chefe [George Washington] são tão similares que descrições feitas para o primeiro poderiam ser aplicadas para o segundo – bastaria substituir as palavras Córsega e Paoli por América e Washington”.2 1 BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico. Lisboa: Martins Fontes, 1983. v. 1. p. 181. 2 BELL, David Aron. Men on Horseback: The Power of Charisma in the Age of Revolution. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2020. p. 51-52. DOI: https://doi.org/10.29327/5450727.1-9

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