98 Paoli e a Córsega na Era das Revoluções. Múltiplas perspectivas para a historiografia revolucionária ajudou a provocar revoluções nas colônias entre 1810 e 1825. Desse modo, as Revoluções não terminaram com a Era Imperial, mas se estenderam até a Primavera dos Povos de 1848.10 Com isso, os fatores frequentemente associados às “causas” da Revolução Francesa, como dívidas públicas, impostos sobre os camponeses e privilégios fiscais da aristocracia, estavam longe de serem uma exclusividade francesa. Valendo-se da noção tocquevilleana de democracia, Palmer argumentou que as revoluções ajudaram a desnaturalizar antigas desigualdades, desafiando o direito fundamentado na tradição e no costume. No entanto, Palmer não ignorava que, com exceções notáveis como o bispo de Ímola, Thomas Paine e Robespierre, a maioria dos líderes associava a ideia de democracia à degeneração e ao poder descontrolado das multidões. Antinacionalista e cosmopolita, a obra de Palmer se opunha tanto a uma historiografia patriótica que minimizava o caráter revolucionário da Independência das 13 Colônias quanto a uma historiografia marxista que reduzia o período revolucionário a uma mera “etapa” burguesa. Entre a publicação do primeiro e do segundo volumes da obra de Palmer, Hannah Arendt lançou On Revolution (1961), que ainda é considerada um exemplo extremo de diferenciação entre as Revoluções Americana e Francesa. Para Arendt, enquanto a Revolução Americana buscava a liberdade – entendida como a participação nas questões públicas e a inclusão no mundo político – a Revolução Francesa desenvolveu o conceito de libertação, que implica que a Revolução (e o Estado) visam a nos liberar da necessidade. Arendt argumenta que, quando a política é orientada pela necessidade (ou libertação) em vez de ser orientada pela liberdade, abre-se espaço para diversos tipos de tirania: “Nada, podemos hoje afirmar, pode ser mais obsoleto do que a tentativa de libertar a humanidade da pobreza por meios políticos; nada pode ser mais inútil e perigoso”.11 Em 1962, Eric Hobsbawm publicou o clássico A Era das Revoluções12, no qual, já nos primeiros capítulos, enfatizava a singularidade da Revolução Francesa. Embora a importância da obra seja inquestionável, é evidente que Hobsbawm subestimou a relevância da Revolução Americana, relegada a uma nota de rodapé e excluída de seu famoso conceito de “dupla revolução”. De acordo com essa teoria, a Revolução Francesa foi crucial para moldar a política moderna, enquanto a Revolução Industrial Inglesa forneceu a base econômica do mundo contemporâneo. Vale pontuar que, nas três obras, é gritante o silêncio sobre Revolução Haitiana, o que não se justifica pela falta de estudos, dado que o clássico Os 10 GODECHOT, op. cit., p. 459. 11 ARENDT, Hannah. Da Revolução. Brasília: Editora UnB, 1988. p. 90. 12 HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz