104 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde p. 24). Ou seja, é mudar enquanto movimento do novo, é o encontro com o inédito, e não meramente um recomeço; mas é, sim, um começar mais uma vez, em um lugar diferente, em outro momento. É poder transitar entre aquilo que se foi, e aquilo que é um vir-a-ser em potencial, logo ali na frente, virando aquela esquina-desviante do território subjetivo. E também é ser-passagem, é estar no entre, é brotar pelo meio (Deleuze; Parnet, 1998, p. 20-21). Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. A árvore é filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo ‘ser’, mas o rizoma tem como tecido a conjunção ‘e... e... e...’. Numa conjunção do tipo ‘e... e... e...’, o que importa não são os termos ou os elementos, mas antes a própria conjunção, o ‘e’ enquanto tal (Deleuze; Guattari, 1995a, p. 36). O processo metamórfico de si enquanto movimento de criação é jogar-se em uma busca constante pelo novo, por um vir-a-ser de outra forma, sob outra perspectiva, em um corpo-inédito. Corpo esse que, aqui, entendemos enquanto território subjetivo-afetivo, um campo sempre tensionado pelo que é da ordem do sensível, visto que tudo é corpo (Cassiano; Furlan, 2013, p. 376). Ele é um território de caráter transicional, porque permite o tráfego daquilo que emerge e pulsa enquanto vontade de potência2, e que, na colisão com o que vem de Fora, encontra uma potência afetiva e (re)inventiva de si, compondo movimentos de criação de vida que possibilitam a passagem do desejo-livre. É nesse encontro entre corpos que alguns movimentos de desterritorialização3 vão acontecendo. Abaulamentos naquilo que, até então, vinha-se entendendo como parte afixada desse território. São essas 2 Esse é um conceito fundamental da filosofia de Nietzsche (2005; 2009), e pode ser entendido como uma força primária que busca uma autoafirmação de si, e a manifestação de suas potencialidades para o mundo. Transita pela via da criação, e, ao mesmo tempo, apresenta um potencial destrutivo, pois, para que o novo se instale, é preciso abrir mão daquilo que é ultrapassado. O tradicionalismo moral atua como repressor dessa vontade de potência, enfraquecendo o verdadeiro potencial humano. Portanto: é essencial libertar-se das dicotomias bem-e-mal para que haja espaço de expressão desse potencial. 3 O processo de desterritorialização atua de forma a desestruturar aquilo entendido como território subjetivo fixo e indissociável, desafiando essa lógica normativa do sujeito. Apresenta-se, também, como um movimento de resistência político-subjetivo (Deleuze; Guattari, 1995a).
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