105 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde cristalizações que dificultam, e, por vezes, barram a passagem daquilo que vem como força desejante. Portanto, a ideia é abrir espaços-ruptura para que o desejo-livre possa transitar, assim, produzindo novas formas de ser e estar no mundo. Seguindo na ideia de corpos que se encontram, e que, dessa forma, produzem efeito potencial nos modos de subjetivação daqueles que se abrem à colisão da experimentação de si e do outro: quais são as características e o que compõe os pacientes “de passagem” nos serviços-escola? Pacientes ditos “de passagem” são aqueles que, ao final dos processos de estágio, ou no encerramento das práticas de profissionais-técnicos, seguem em acompanhamento no serviço com outros profissionais e/ou estagiários que chegam, iniciando, assim, um novo processo. Ser um corpo-de-passagem, portanto, apresenta um grande potencial de desencontrar, encontrar e reencontrar pequenos pedaços de nós, aqueles atados à grande teia subjetiva, e que nos compõem enquanto sujeitos únicos no mundo; e assim, no processo de encontrar com o estranho outro, esses nós tornam-se laços: o entre-laçamento daquilo que, enquanto sentido singular do processo, é o fio que tece toda a teia do vínculo profissional. O encontro exerce uma espécie de violência ao nos forçar a pensar, porque é algo que sacode o pensamento, torna-o inevitável, uma necessidade (Rodrigues; Silveira, 2021, p. 144). Por outro lado, existe a necessidade um certo jogo de cintura dos novos profissionais em entender que há um inevitável esgotamento – ou cansaço – do processo clínico de trabalho. Com o passar do tempo, pacientes “de passagem” podem apresentar algum nível de resistência, principalmente se tratando da formação de vínculo inicial, assim como à troca de profissionais, ao novo processo de trabalho; é como se essa passagem fosse ficando obstruída aos poucos, com alguns percalços e algumas fissuras do tempo, mas, cabe ao corpo-novo entender esse lugar estranho ocupado, e reconhecer quais brechas que podem, novamente, abrir caminhos-encontros a serem trilhados. Entender o corpo como esse lugar de passagem traz, também, a ideia de algo que não é fixo, que a noção de identidade individual4 do 4 Para Deleuze e Guattari (1995b), o sujeito não dispõe de uma identidade fixa e categórica, pois caracteriza-se como um constante devir-ser: corpo enquanto movimento de desterritorialização e reterritorialização de vida.
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