A mudanca como fenomeno no cuidado em saude

107 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde dutora de vida, a partir de experiências e vivências nos encontros com a diferença. Seus movimentos que pareciam sem rumo se revelam precisos, seu corpo esguio dá passagem a intensas afetações sem sucumbir à violência destas forças. Tão forte quanto frágil. Mal adivinharam, aqueles que lhe escutavam, que sua força provinha exatamente de sua fragilidade, de sua capacidade de lançar-se na experimentação desconhecida (Fonseca, 2022, p. 32). A criação é a força motriz que desassossega esse lugar de domínio do poder, entendendo que, o que importa, no fim, são as conexões e as alianças que se formam nesse movimento de sair do lugar. Para Deleuze e Guattari (1995a, p. 18), “a questão não é nunca fechar- -se sobre um sistema qualquer, nem mesmo sobre duas ou três valises conceituais já prontas, mas é, pelo contrário, traçar linhas de fuga, o máximo de linhas de fuga possíveis”. Por isso, a ideia da metamorfose é tão potente. Ou seja, ser corpo-de-passagem diz muito sobre a disponibilidade de jogar-se naquilo que pode vir-a-ser na experiência do encontro com o novo, o inédito, o inusitado. Não há uma linearidade na produção de subjetividades, nem naquilo que entendemos enquanto território subjetivo “de passagem”, mas, sim, diversos abaulamentos que exigem do profissional um olhar atento para cartografar aquele espaço, encontrando desvios de fuga em potencial, para poder encontrar ou abrir novos caminhos. A ideia é poder trabalhar dentro do potencial que surge a partir dos encontros, tomando como ponto de partida a ideia de que todo o corpo que se apresenta ali, no processo clínico, é um corpo-novo, um corpo metamórfico. No campo do trabalho, reafirmamos ou contestamos padrões instituídos, e nossa força instituinte se apresenta como mais ou menos potente para produzir desvios àquilo que nos força a pensar e nos deixa em suspenso e em crise. Sentir e acolher a crise poderia vir a ser uma inicial abertura para a clínica da clínica (Fonseca, 2022, p. 282). Nessa linha, a aposta é uma clínica dos afetos (Franco, 2010), na qual o processo baseia-se em pensar o corpo na dimensão daquilo que afecta e afeta, que pulsa desejo e potência de vida, que aposta na ideia

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