A mudanca como fenomeno no cuidado em saude

108 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde da experiência enquanto fluxo que produz, de múltiplas maneiras, singularidades e novas formas de ser e estar no mundo. É pensar que um corpo-de-passagem carrega uma multiplicidade que se estende para muito além daquele novo encontro, daquele novo momento, mas que se apresenta com uma disposição de poder, cada vez mais, produzir coisas novas em conjunto, sempre lembrando da importância que as marcas (Rolnik, 1993) também trazem enquanto potencial. E assim vamos nos criando, engendrados por pontos de vista que não são nossos enquanto sujeitos, mas das marcas, daquilo em nós que se produz nas incessantes conexões que vamos fazendo. [...] O que o sujeito pode, é deixar-se estranhar pelas marcas que se fazem em seu corpo, é tentar criar sentido que permita sua existencialização – e quanto mais consegue fazê-lo, provavelmente maior é o grau de potência com que a vida se afirma em sua existência (Rolnik, 1993, p. 242). Para o trabalho no processo clínico, é importante que mantenhamos acesa a chama da curiosidade, e a vontade de, com frequência, provocar, tensionar e desafiar o campo subjetivo-afetivo construído nos encontros, usando disso como um artifício da nossa caixa de ferramentas. Manter esse campo constantemente “em crise” é insustentável a nível de construção e fortalecimento de vínculo, mas é importante sustentar a ideia de que desassossegar-se desses lugares cômodos e conhecidos no processo clínico é uma das ferramentas mais potentes para a produção de novos modos de subjetivação. As marcas de Rolnik (1993) aparecem como efeito daquilo que acontece no encontro com o outro, e que é ali, na colisão de vidas, que a diferença acaba sendo produzida, na intenção de (re)criar estados inéditos de si. Sendo assim, torna-se imprescindível a ideia de um corpo-de-passagem enquanto lugar de produção de fissuras e de fugas inventivas, sendo as marcas nossos principais objetos-ferramentas no processo clínico. Penso que, ao propormos um trabalho numa linha ética-estética-política de cuidado com o outro, é importante o entendimento de que esse encontro também é responsável por criar novos processos de subjetivação em nós, corpos-profissionais. Isto posto, há de se entender o quanto também estamos “de passagem” nos espaços que dividimos com o outro, dessa forma, seguindo numa linha de desconstruir,

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