113 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde Ao refletir sobre a história de Gabriel, faz-se necessário contextualizar que ele já fora adotado anteriormente junto de sua irmã e devolvidos ao abrigo, a partir de uma desistência no processo adotivo. Foi depois desta desistência na adoção e retorno dos irmãos ao abrigo que a menina mais nova foi adotada. Gabriel e o irmão permaneceram aguardando por uma família que pudesse proporcionar uma mudança neste cenário. A prática clínica com Gabriel teve uma duração relativamente curta, mas observa-se que o caso foi desenovelado em início, meio e fim, mesmo que sua saída da psicoterapia na instituição não tenha seguido as recomendações de alta. Por se tratar de um convênio entre instituições, quando saísse do abrigo, Gabriel precisaria também encerrar seus atendimentos na clínica. Desta forma, não seguiria, portanto, o processo psicoterapêutico em seu curso de desenvolvimento das fases, mas estabeleceria então um “término combinado”, assim como sugerem Castro, Campezatto e Saraiva (2009), quando uma das partes decide encerrar o processo, neste caso, quando é necessário seguir os acordos firmados. O menino, desde o início, se mostrava sempre muito agitado, utilizando todo o espaço da sala para suas criações, brincadeiras e cenários. Gabriel, ao longo desses quase 5 meses, reproduziu repetidas vezes narrativas de lutas, de disputas entre polícia e ladrão, assim como também trouxe à nossa sala a presença simbólica e imaginária do It, a coisa, o palhaço assassino. Todas essas histórias eram contadas e reproduzidas de maneira agressiva e violenta, em que Gabriel alternava em posições de ora se defender, ora atacar o inimigo, neste caso, a terapeuta. O bom e o mau: dicotomia presente em seu percurso O processo psicoterapêutico de Gabriel, desde o início passava pela temática da violência, visto que, em sua narrativa utilizava como dispositivo de simbolização uma arma de brinquedo que dispunha em sua caixa individual. Com isso, o objeto disparador das sessões era sempre a arma, fazendo com que Gabriel escolhesse na maioria das vezes pela encenação de “polícia e ladrão” com a terapeuta. Os 45 minutos da sessão eram sempre muito bem aproveitados pelo paciente, circulando por diferentes atividades em uma mesma sessão, o que exempli-
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