114 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde fica o comportamento agitado pelo qual teria sido encaminhado para atendimento. Por meio da brincadeira e dos jogos, seu processo psicoterapêutico aconteceu e foi acompanhado pela lógica de que “somente se compreende e se interpreta um jogo quando se tem em consideração a situação analítica global na qual se produz” (Aberastury, 1992, p. 52). No setting clínico Gabriel conseguiu dar voz, cor, e sons à dicotomia de bom e mau presente em sua história, que com apenas 6 anos, contou com diferentes situações mobilizadoras. Importa ressaltar que mesmo no abrigo em que estava acolhido, a história pregressa do menino não era conhecida de forma integral, visto que não se sabia se Gabriel possuía outros irmãos ou mesmo por quais violências havia passado anteriormente. Era recorrente que Gabriel chegasse já muito animado e agitado para a sessão, propondo rapidamente o que faríamos. Na primeira fase de seu tratamento, observa-se que ele repete frequentemente que precisa proteger-se do ladrão, enquanto vítima e/ou polícia, e que alterna suas ações entre esconder-se e/ou atacar. Assim como Freud (2011) postula em seus escritos sobre a relação sujeito e objeto, percebe-se em seu brincar duas posições convergindo. Uma em que Gabriel quer ser o objeto e outra em que quer ter o objeto. No caso aqui discutido, Gabriel alterna entre representar o que quer ser enquanto adulto e representa a perda do objeto, quando coloca-se enquanto polícia e ladrão. O sonho da riqueza de uma família Enquanto Gabriel demonstrava agressividade, violência e agitação ao longo das sessões, a equipe técnica do abrigo informa que tinha uma família interessada na adoção de Gabriel e que o processo de entrevistas e visitas ao abrigo já havia começado. Pouco tempo depois, a aproximação do casal começou, inicialmente com visitas a Gabriel no abrigo e em seguida, com passeios. No setting, Gabriel seguia repetindo majoritariamente as encenações de polícia e ladrão durante as sessões, até que, concomitantemente as visitas e ao processo de aproximação da família adotante, Gabriel passa a chegar muito sonolento. Dormia em pouco tempo enquanto aguardava na recepção e começou a dormir também ao longo das sessões. Eram feitas tentativas de questionamentos sobre a situação
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