A mudanca como fenomeno no cuidado em saude

22 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde que aspectos da própria naturalidade humana e espontaneidade possam fazer parte do setting (Gabbard, 2005). Iniciar um processo psicoterapêutico provoca sempre uma nova ansiedade, um novo encontro que pode proporcionar diversas situações. Se colocar frente a frente com um desconhecido pela primeira vez gera anseios em ambas as partes. E quando esse desconhecido não é assim tão desconhecido? Nos encontrarmos com um paciente de passagem pode ser tão ansiogênico como receber um novo paciente. Neste caso, não vamos como uma tela em branco, pronta para ser decorada pelo que o paciente tem a nos dizer. Geralmente, já conhecemos este usuário a partir da escuta dos colegas-psicoterapeutas em espaço de supervisão, que semana a semana compartilham conosco a experiência de escutar estes sujeitos. A partir disso, nos encontramos com o paciente com um olhar já marcado pelos esboços que o colega nos pintou. O que pode facilitar ou atrapalhar a nova relação que está por vir. Em uma das experiências por nós vividas está a de acompanhar uma das colegas, que estava em seu último semestre no serviço, narrar seus encontros com a paciente pré-adolescente que ela atendia. Encontros quase sempre narrados como muito mobilizadores para a psicoterapeuta, pelos conteúdos trazidos pela paciente através das expressões artísticas, uma vez que a verbalização se mostrava como uma via pouco utilizada por ela. Nestes relatos e partilhamentos dos desenhos, o nosso grupo também se mobilizava, envolvido pelos sentimentos expressos pela colega, a partir da presença na sessão, e pela paciente, através da arte. Este caso mostrou que a configuração da transferência entre paciente-psicoterapeuta pode ser tão potente, que, ao se aproximar o período da passagem, paciente e psicoterapeuta sintam-se afetados pela despedida, como aconteceu neste caso, no qual a paciente pode demonstrar sua fragilidade frente à despedida e a psicoterapeuta, em supervisão, manifestou também os mesmos sentimentos. Ao ser realizada a passagem, a paciente pré-adolescente convoca as duas psicoterapeutas a participarem de um jogo de cartas, no qual somente ela ditava as regras. Quando a nova psicoterapeuta parecia ter vantagem quanto às regras já estipuladas, a paciente apresentava uma nova regra, fazendo com que a nova psicoterapeuta ficasse novamente em desvantagem. Infelizmente, este foi um caso em que os desdobramentos desta despedida e deste novo encontro pouco puderam ser trabalhados, tendo esta passagem também sido afetada pela mudança de espaço físico do

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