23 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde serviço, além da mudança de psicoterapeuta, o que resultou no abandono do tratamento. São nestes relatos que a dificuldade da “passagem” se faz presente. Como dar continuidade a um trabalho tão marcante na vida do paciente e, também, do psicoterapeuta? Aos poucos, vamos questionando juntas em supervisão, formas de trabalhar em nós e com os pacientes a continuidade do cuidado. Por vezes, também nos deparamos com nossa própria posição de recém-chegados, na qual o paciente conhece melhor o serviço do que os novos estagiários. Estamos em um local novo com um paciente que está familiarizado com o consultório, com o funcionamento do serviço e do setting, com os brinquedos, com a recepção. Assim, tem-se o desafio de construir um vínculo a partir das experiências vividas pelo paciente com seu estagiário anterior e com as relações previamente estabelecidas com o local. Surge, então, a necessidade de olhar e pensar sobre o que já foi feito, conversado e trabalhado com o paciente, atrelada às novas possibilidades que aparecem no setting modificado pelo novo estudante de psicologia. Isso porque cada um possui suas singularidades e esse novo encontro, nunca antes experimentado, impactará o setting a partir da nova transferência, da contratransferência, da comunicação e do vínculo que precisará ser construído. Da mesma forma que o estagiário se prepara para receber o paciente, considerando toda sua história, espera-se que o paciente esteja aberto para essa nova relação de confiança que será estabelecida. É o trabalho de uma dupla. Portanto, a “passagem” de um paciente e os desdobramentos a partir disso são complexos e sensíveis às mudanças que ocorrerão entre a relação psicoterapeuta-paciente, o setting criado e o vínculo estabelecido. Há também as vezes em que os esforços não são suficientes para manter um paciente em vínculo com o serviço e implicado no seu processo terapêutico. Nesse momento, e considerando a mudança de sede do PAAS, pode-se pensar no abandono como um reflexo dessa mudança. Muitos pacientes acessavam o serviço sem nenhum custo, por viverem no mesmo bairro ou em bairros ao redor do centro da cidade. A partir da mudança, muitos deles se viram com muita dificuldade, ou impossibilitados de chegarem até o campus da Unisinos, abandonando então o acompanhamento psicoterapêutico. Outro fator presente nas “desistências” está relacionado com pacientes menores de idade, que dependem de uma certa decisão por parte dos responsáveis em rela-
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz