A mudanca como fenomeno no cuidado em saude

24 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde ção ao tratamento, o que muitas vezes acaba afastando os pacientes do serviço por dificuldades de deslocamento, problemas com horário, ou sejam quais forem as questões apresentadas pelos responsáveis. São situações como essas que acabam por deixar muitos dos psicoterapeutas iniciantes comovidos com o abandono dos pacientes, podendo surgir dúvidas em relação aos reais motivos da perda destes, como também em relação ao próprio desempenho na experiência de estágio. Ainda que possamos nos sentir abandonados por nossos pacientes e tudo que envolva sua desistência, sabemos que, em algum momento, quem irá precisar se despedir somos nós, os psicopsicoterapeutas em formação. Ao finalizar nossa prática no serviço escola, estudamos caso a caso para avaliar a possibilidade de alta ou passagem para outro psicopsicoterapeuta. Buscar por um colega que possa aproximar-se com nossa forma de trabalhar, tenha semelhanças de trejeitos, suas implicações e principalmente seu desejo em dar continuidade aos atendimentos. Em concordância com Bion (1971), durante os atendimentos o psicoterapeuta utiliza da função continente proposta pelo autor. Esta condição consiste em aceitar, suportar e sobreviver às projeções do paciente que penetram em nós, como uma figura materna que sustenta essa posição. Assumindo a carga energética do paciente e dando destino a essas projeções, dando contorno à narrativa do paciente, mantendo-se vivo aos ataques e marcando nossa presença, com uma postura de continuidade na vida do paciente. Ao realizar a passagem, buscamos por um colega que possa prover cuidados e afetos a partir da nova dupla que se forma, onde o encontro com o novo possa ser capaz de produzir novas experiências para ambos durante sua caminhada. É interessante pensar em como essas relações são capazes de promover amadurecimento mútuo e de como a despedida pode se tornar dolorida e desafiadora, afinal, durante um processo psicoterapêutico, nos encontramos com um tipo de intimidade completamente diversa daquelas que estamos acostumados a vivenciar com nossos pares. Funcionamos como uma unidade, e só funcionamos porque nos encontramos com a falta, com o desejo de ser desejado, com o que pensamos ser desconhecido, e assim, como uma dança coreografada, vamos chegando ao final e nos despedindo do palco onde, uma vez, suamos e dançamos juntos. Reverenciamos o processo, seja como ele tenha sido, e ali, dizemos um até logo e abrindo-se para a nova história que será construída.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz