A mudanca como fenomeno no cuidado em saude

25 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde Desde que começamos o estágio, observamos colegas se despedindo de seus pacientes, algo que presenciamos por dois semestres. No entanto, ainda não tínhamos compreendido plenamente o significado desse momento. Para Dunker, o sofrimento não se apresenta de maneira fixa ou previsível. Ele é algo fluido e difícil de ser explicado de forma precisa, já que sua natureza é complexa e se manifesta de maneiras variadas. Nesse sentido diz: “O sofrimento, por sua vez, pode ser agora mais bem concebido como excesso de indeterminação metonímica [...].” (Dunker, 2015, p. 132). Em uma tarde, enquanto chegávamos ao serviço, nos deparamos com uma colega chorando no corredor. Ela era nossa companheira de estágio, sempre presente no nosso dia a dia. Ao vê-la, uma das estagiárias acelerou o passo naquele corredor longo e foi em sua direção. – Está tudo bem? Posso te ajudar em algo? – perguntou ela. Por alguns instantes, ela não conseguiu responder. Esperamos, segurando seus braços com firmeza, enquanto permanecia de frente para ela. Então uma das colegas a abraçou. Ela chorou em silêncio por um tempo, e apenas ficamos ali, sem imaginar o que poderia estar acontecendo. Após alguns minutos, ela conseguiu sussurrar: – Me despedi da minha paciente. A nossa colega havia acabado de vivenciar o momento de passagem. Dentro de uma sala próxima, ela tinha recebido sua paciente – uma criança –, feito o atendimento, e nos minutos finais, a nova psicoterapeuta entrou para brincar e jogar com ela, iniciando o rito de transição. Por que estamos contando essa história? Porque, neste momento, nos damos conta de que estamos prestes a viver novas mudanças, encontros e despedidas, atestando mais uma vez que os processos de mudança são, de certa forma, a única constante no nosso processo de formação como psicólogas. Entre o anúncio ao paciente e o momento da despedida, é fundamental lembrarmos que, apesar dos sentimentos e desejos pessoais que possam surgir, ainda ocupamos a posição de psicopsicoterapeutas. Nossos desejos, interesses ou vontades não podem ditar nossas ações no setting. Embora esses sentimentos existam e sejam latentes, devemos dar lugar ao desejo do analista, que se sobrepõe ao desejo pessoal e direciona o foco para o plano principal, que é o processo terapêutico do paciente. Como bem sugerem Scheffel et al. (2023): “É preciso que atuemos e encaremos as nossas práticas não a partir do nosso desejo

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