27 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde compete a fazer dele, além de um espaço de experiência e aprendizagem profissional para o estagiário, uma instituição que acolha e atenda as demandas da comunidade de usuários que acessa seus serviços. Ao pensarmos através da perspectiva dos atravessamentos que ocorrem a partir dos encerramentos dos atendimentos, podemos refletir sobre a anunciação inconsciente de um término previsto. Os estagiários já iniciam seu estágio sabendo que, em três semestres, deixarão este local, e muitos pacientes, vindos de passagens, já experienciaram esta despedida. Sendo assim, psicoterapeuta e paciente podem não falar sobre o encerramento do atendimento, mas, em algum lugar do seu psiquismo, existe essa informação. Situação que pode gerar angústia, e, que em muitas vezes, ocasiona diversos sentimentos na dupla disposta. No entanto, nosso intuito não é colocarmos a pensar sobre estes atravessamentos junto aos pacientes, uma vez que muitos deles não tem essa informação e, justamente, para não levantar todas as angústias e possíveis resistências que possam surgir a partir desta nuvem que cerca o setting. Expor isto ao paciente no início dos seus atendimentos, é impor uma barreira na construção do vínculo: como confiar em alguém que eu sei que vai me abandonar? Fantasias que podem vir a atrapalhar a potencialidade que o encontro oferece. Estas reflexões pertencem ao jovem psicoterapeuta, que em seu espaço de supervisão, possa desafogar seus receios e anseios quanto a este tópico tão presente na vida do estagiário, para compreender e melhor trabalhar junto ao seu paciente quando este momento chegar. A presente escrita discorreu sobre as inquietudes emergidas com o recebimento de um novo paciente, as angústias afloradas com a passagem vindo de outro psicoterapeuta e com as ambivalências emergidas a partir de desistências ou abandonos de pacientes. Para além do manejo prático dessas situações descritas, o estagiário se depara com seus próprios afetos diante dessas experiências, se havendo com dúvidas sobre sua competência e que tendem a se desdobrar também na dupla terapêutica e no setting. Por fim, Bondía (2002, p. 21) escreve que “a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca” e que, sendo assim, a experiência carrega consigo a capacidade de transformação do sujeito. Dar abertura às mudanças e estar sensível para as nuances que emergem a partir desse acontecimento é deixar ser afetado em prol da transformação e formação do sujeito.
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