32 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde vências, permitindo que os espaços sejam criados para que o novo possa emergir. A vida se desenrola em um ciclo contínuo, onde nossa história recebe novas costuras a cada experiência. Nesse sentido, Detoni afirma: “Tecer a vida, engravidar o tempo, fazer e refazer a existência” (Detoni, 2019, p. 13), sugerindo que estamos sempre recriando nossa vivência, gestando o amanhã e renovando nossa existência e isso fala de mudanças. A vida está para a mudança assim como as estações estão para o tempo: Inevitável, movimento constante, sempre trazendo grandes transformações. Mas, é necessário ser parte desse processo. Esse movimento contínuo de mudança e adaptação na prática clínica nos leva a considerar como essas mudanças impactam a saúde mental, tanto em atendimentos individuais quanto em grupo. E talvez aqui resida a chave de tudo que será abordado neste trabalho. Esse movimento constante é a essência da experiência humana, e ao nos engajarmos conscientemente nesse processo de mudança, como sugere este trabalho, passamos a explorar a transformação em diversos contextos. Seja qual for a mudança, sempre nos desacomodará. A questão aqui é: o que pretendemos fazer? No dicionário da língua portuguesa Michaelis, “mudança” é definida como a ação ou o efeito de mudar, alterando ou transportando algo ou alguém de um lugar para outro (Michaelis, 2022). A mudança, por natureza, pressupõe movimento, transformação e desacomodação. Lulu Santos, surpreendido pelas constantes mudanças da vida, compôs junto com Nelson Motta uma canção que fez um enorme sucesso nos anos 80: “Como Uma Onda”. Na letra, ele reflete sobre como não se pode evitar as mudanças: “A vida vem em ondas, como um mar, num indo e vindo infinito”. E complementa: “Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora. Há tanta vida lá fora, aqui dentro sempre, como uma onda no mar”. Assim sugere Lulu, “não adianta fugir”; resistir às mudanças é inútil. Dispor-se a mudar pode ser a diferença para “vivências mil” e muitas possibilidades de ressignificar. Do contrário, permanecer estático e rígido, é abrir mão das infinitas possibilidades. Mudar não é tão simples; requer renúncia, um certo ajuste que incomoda e uma disposição constante para sair do que é familiar e culturalmente aceito. Requer sair do ambiente que já conhecemos e estamos habituados. No entanto, é nesse desconforto que encontramos o espaço necessário para reinventarmos e seguirmos novos de novo.
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