34 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde internalizando um certo modo de ver a si mesmo e seu mundo interior [...]” (Gabbard, 2005, p. 163). A mudança também se manifesta na escolha do manejo terapêutico, ajustando-se às necessidades específicas de cada paciente ou grupo. “Um terapeuta qualificado é suficientemente flexível para ser capaz de mudar de abordagem conforme as necessidades de um determinado paciente em um determinado processo terapêutico (Gabbard, 2005, p. 92, 93). Conforme apontado por Barros (2022), por volta do ano 2000, surgiu um movimento crescente de estudiosos interessados em entender como ocorrem as mudanças psicológicas. Essas pesquisas focam em duas abordagens principais, nas quais a “pessoa do terapeuta tem um papel fundamental”: as pesquisas de resultado e as pesquisas de processo. Basicamente, para o autor, a primeira abordagem se concentra em provar que um tratamento específico é eficaz — ou seja, que funciona através da melhora psicopatológica. Já na segunda abordagem, busca-se entender como as mudanças ocorrem no processo psicoterapêutico, explorando os mecanismos que estão envolvidos no processo e que facilitam a transformação do paciente (Barros, 2022). Independentemente da natureza da mudança e dos aspectos que a envolvem, o processo é contínuo, requer flexibilidade e a capacidade de adaptar-se aos desafios que surgem ao longo da trajetória terapêutica, tanto para o paciente quanto para o terapeuta. Ao analisar como a mudança molda não apenas a prática clínica, mas também as nossas interações, é importante observar como questões mais profundas, como o racismo, influenciam a jornada acadêmica. Entre vivências e resistências: um atravessamento na trajetória acadêmica Essa disposição para mudanças também me levou a revisitar questões mais profundas, como o racismo, que se tornou uma constante em minha vivência acadêmica. Quase 30 anos fora da vida acadêmica, resolvi voltar a estudar e, ao longo desses anos de graduação, fui levada a revisitar crenças, enfrentar desafios e muitas vezes aceitar o inesperado — o que, sem dúvida, fala de mudanças. Estar na universidade, para mim, não significa apenas lidar com as mensalidades, o transporte para ir e vir, ou mesmo com a quantidade de livros, artigos, trabalhos, provas do grau A e grau B. É também se ocupar do racismo.
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