35 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde Talvez você ao ler este artigo, pergunte: O que tem a ver falar essas coisas todas sobre mudança e a questão do racismo? Eu não acho ruim que você tenha esse questionamento. Por isso usarei as palavras de uma forma bem animada, para te ajudar a compreender o meu mundo, certo? “Quando fazemos coisas com as palavras, do que se trata é de como damos sentido ao que somos e ao que nos acontece, de como correlacionamos as palavras e as coisas, de como nomeamos o que vemos ou o que sentimos e de como vemos ou sentimos o que nomeamos” (Bondía, 2002, p. 21). As palavras, segundo o autor, expõem a forma como interpretamos a nossa realidade, e é por isso que elas são usadas brilhantemente para explicar o que, muitas vezes, é difícil de entender apenas conversando. Então, vamos imaginar o seguinte: Ao nascer sapo, você terá que lidar com situações que lhe atravessarão justamente por ser sapo, num mundo onde muitos acreditam que ser sapo não é tão bom assim — ou, mesmo que não acreditem, há uma certa dificuldade para que o sapo consiga habitar espaços construídos para outros seres, considerando que ele é um anfíbio da ordem Anura (UFRGS, 2024). Quando você vivenciar as mesmas experiências que todo mundo experimenta, serão atravessadas pelo corpo de sapo, não pelo de uma lagartixa, morcego ou pássaro, mas de sapo. Terás problemas iguais a todos, mas existirão questões que apenas você viverá por ser sapo. Então, tudo o que você disser partirá dessa perspectiva. Veja, não partirá da perspectiva da lagartixa, morcego ou pássaro, mas da perspectiva de um bom e velho sapo. Se por um acaso, você que está lendo este artigo, não se identifica com essas experiências, é porque você não é um sapo. Simples assim. Isso no entanto, não quer dizer que você também não tenha seu lugar... Tem sim, mas é um lugar diferente. Paulon, (2005) afirma que o modo como o pesquisador vê e interpreta o objeto de estudo é moldado pela sua própria perspectiva e experiência. Sugere o autor com essas palavras que a forma vemos as coisas partem da nossa experiência com essas mesmas coisas (Paulon, 2005). Assim como o sapo ocupa um espaço no mundo, a lagartixa, o morcego e o pássaro também ocupam os seus. É essa posição no mundo que estabelece o que Djamila Ribeiro chama de “lugar de fala”. Para ela, “lugar de fala” significa que a narrativa de um sujeito parte do lugar que ele ocupa no mundo (Ribeiro, 2017). Para as diferentes vivências de cada um, Ribeiro vai dizer que “uma mulher negra terá experiências distintas
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