37 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde e desse experimento deixar-se afetar em um estado de vida genuíno, e não apenas em busca de aprimoramento superficial, sem realmente ser tocada. Como Bondía coloca: “Ao sujeito do estímulo, da vivência pontual, tudo o atravessa, tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca, mas nada lhe acontece” (Bondía, 2002, p. 23). Por outro lado, a universidade me moldou, e ensinou-me também, a recorrer aos autores e buscar conhecimento daqueles que, por meio das suas vivências, registraram em suas “cartas escritas” (livros e artigos), seus saberes. As disciplinas ministradas ao longo do curso me ofereceram uma base sólida para compreender as dinâmicas por trás dos comportamentos e escolhas, fundamentadas nas principais teorias e autores. No entanto, foi no estágio básico que me percebi assumindo um papel mais ativo, algo que até então era apenas uma ideia. De repente, me vi como protagonista do processo, aplicando o que aprendi, através da elaboração da escrita e execução do projeto de intervenção. Esse foi o começo do ensaio prático, que culminou no estágio profissional. O protagonismo que começou no estágio básico evoluiu para um saber, onde compreendi meu lugar e o papel que deveria desempenhar. Isso me permitiu o enfrentamento de novos desafios e a utilização das ferramentas adequadas para cada situação, indo além da teoria. Como sugerem Dias e Moura: “No processo do estágio, o supervisionado tem a oportunidade de desenvolver habilidades que são essenciais no processo formativo como a escuta, observação, questões éticas, compreensão e percepção de pontos de vistas diferentes” (Dias; Moura, 2024, p. 14). O atendimento psicoterápico, por exemplo, tem um fluxo de ação intenso e dinâmico e exige do psicoterapeuta saber o que fazer, o momento exato de intervir e, muitas vezes, o que não fazer. Não estamos à frente de nossos pacientes, embora estejamos na sua frente — permita-me o trocadilho. Sentados frente a frente, realizamos um trabalho conjunto, lado a lado. Para Detoni, “[...] do entre que se produz no par terapeuta-paciente, faz, da clínica psicoterápica, um trabalho artesanal no campo das problemáticas existenciais humanas” (Detoni, 2019, p. 13-14). A autora sugere que o trabalho realizado pela dupla terapêutica, não é previamente dado e rígido, mas construído cuidadosamente de forma artesanal. O material simbólico trazido pelo paciente, carregado pela transferência e contratransferência, é colocado como um conteúdo
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