39 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde Entrar em um consultório e atender um paciente pela primeira vez é uma experiência que nos mobiliza profundamente, tornando-se o tema central de muitas supervisões. Quem não se lembra do seu primeiro atendimento? A boca seca, os pensamentos ficam confusos e acelerados, e a gente tenta lembrar de tudo o que o paciente diz, sem sucesso. Hora estamos ali, hora estamos tentando nos manter ali. O nervosismo é tão grande que passamos a contar o tempo de maneira diferente – após uma hora interminável, olhamos para o relógio e percebemos que apenas alguns minutos se passaram. Nos dá a impressão que aquela situação não é a que achávamos ser e sentimo-nos débeis, fracos. Tantas coisas passam pela nossa cabeça naquela hora e a gente precisa deixar a atenção flutuante. Porém, tudo flutua, menos nossa atenção, que está fixa tentando manter-se calma, buscando ver se lembra da frase que acabou de ser dita pelo paciente (Sant’anna, 2024, p. 5). Naquele momento no setting, nos deparamos com uma discrepância entre a teoria e a prática, e essa diferença é a nossa vulnerabilidade. Não estamos habituados a lidar com o que descobrimos sobre nós mesmos: que a inexperiência diante do inesperado nos domina, enquanto tentamos aplicar o que aprendemos na graduação, nesse espaço em que a realidade se sobrepõe, testando nossa capacidade de se adaptar e lidar com aquela nova situação. A vulnerabilidade, no entanto, faz parte de todo o processo que vivenciamos, e, em vez de tentar escapar dela, precisamos acolhê-la. Como afirma Dunker e Thebas (2019, p. 74), “uma das formas de acolher a nossa vulnerabilidade e compartilhá-la com outro é experimentá-la como uma insuficiência do saber”. Bondía, por sua vez, vai abordar um outro aspecto, destacando a importância de buscar a experiência e a vivência, em vez de se perder na busca por informações. Ele observa que: O sujeito da informação sabe muitas coisas, passa seu tempo buscando informação, o que mais o preocupa é não ter bastante informação; cada vez sabe mais, cada vez está melhor informado, porém, com essa obsessão pela informação e pelo saber (mas saber não no sentido de “sabedoria”, mas no sentido de “estar informado”), o que consegue é que nada lhe aconteça (Bondía, 2002, p. 19).
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