A mudanca como fenomeno no cuidado em saude

42 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde to dessa frase, retirada do texto “Análise Terminável e Interminável” de Freud, é uma das minhas favoritas. Ela reflete a importância do encontro entre terapeuta e paciente no processo analítico, método terapêutico desenvolvido por Freud, que se tornou o precursor do que hoje entendemos como psicoterapia. Freud não é apenas o pai da psicanálise, mas também é quem estabeleceu as bases para o atendimento individual, que evoluiu para o formato da psicoterapia que temos hoje. No trecho acima, Freud defende que o final da análise ocorre sob duas condições: a primeira, quando o paciente supera suas angústias e medos; e a segunda, quando o terapeuta compreende que o material reprimido foi trazido à consciência, aspectos incompreendidos foram esclarecidos, e as resistências foram vencidas, garantindo que os processos patológicos que causavam sofrimento não voltem a se manifestar mais (Freud, 2018). E isso, explica o fato de que terapeuta e paciente, não se encontrem mais. Isso nos oferece uma base sólida para um conceito essencial: um analista, um paciente e o encontro em uma sessão analítica, onde a escuta atenta revela um conteúdo que permite a transformação psíquica – Isso é um atendimento individual. Freud compara a tarefa do analista à de um arqueólogo, que “[...] se ocupa de algo ainda vivo [...]” e trabalha tanto na “[...] construção” quanto na “reconstrução”, “[...] escavando uma localidade destruída e enterrada ou uma edificação antiga”. Esse processo de exploração e revelação do material reprimido inicia com a escuta analítica (Freud, 2018, p. 65). Sabe-se que cada profissional possui sua ferramenta de trabalho, por exemplo, a do professor é a oralidade, a do jornalista é a informação e a do psicólogo é a escuta. Mas não é uma simples escuta, é compreender e elaborar aquilo que está sendo produzido, revelado (Fagundes et al., 2022, p. 38). “[...] A escuta é como uma espécie de brincadeira séria que transforma as pessoas” (Dunker; Thebas, 2019). Essa transformação não se limita apenas ao paciente, mas também a mim, psicoterapeuta. Como aponta Christian Dunker, a escuta analítica, começa pela escuta de si. “Escutar-se é desconhecer-se, despir-se do conhecido e das inúmeras versões que fazemos e refazemos de nós mesmos, a que a psicanálise chama de narcisismo” (Dunker; Thebas, 2019, p. 21). Sugere o autor, que é na escuta que aprendemos a desconstruir o que nos põe em primeiro lugar e buscamos compreender melhor esses processos.

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