75 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde missão no Haiti, se pergunta sobre as expressões que devem ser feitas ao adentrar o mundo do outro e, mesmo em contextos diferentes, nós nos fizemos a mesma pergunta: “Devo usar a expressão de compaixão? Pena? Dó?”. Pena e dó já abasteciam aquele lugar, necessitávamos dar o avesso disso. A partir desse pensar e reconhecer, começamos nosso trabalho conjunto, na reestruturação de uma nova vida possível e no acolhimento de dores muito doídas, na tentativa de amenizar e dar um significado ao trauma vivido, se é que isso seria possível, naquele momento. As pessoas nos pediam muitas respostas e nós tínhamos cada vez mais perguntas. Percebemos que ao nos colocarmos nesse lugar de sentir compartilhado, foi impossível nos mantermos distantes e, quanto a isso, o sentir “com” foi importante, ao mesmo tempo que desafiador, na medida de não deixarmos essa inundação impedir nossa escuta. Assim como recomenda o Conselho Federal de Psicologia (2014), nos colocamos de forma implicada, responsável e atenta frente aos contextos e às nossas condições técnicas e emocionais para darmos suporte àqueles que estavam à mercê do trauma. De acordo com o Art. 1° do código de ética que rege a profissão da Psicologia, é dever do psicólogo assumir “responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, técnica e teoricamente” (CFP, 2014, p. 8). Nesse sentido, importa ressaltar que não é necessário ser um profissional da área da saúde para realizar os primeiros cuidados psicológicos (OMS, 2015), no entanto, é recomendável uma instrumentalização para intervir neste contexto, em um cuidado redobrado para que o trauma não atinja uma magnitude ainda maior. No que tange a psicologia, é essencial aos estudantes e psicólogos diferenciar primeiros cuidados psicológicos de atendimento em psicoterapia, reconhecendo também que a base curricular da graduação de psicologia acaba não sendo suficiente para dar conta de uma intervenção na especificidade e amplitude do contexto catastrófico. Na nossa ânsia por querer ajudar, também precisamos nos haver com as nossas insignificâncias. Foi preciso, principalmente, exercitarmos também nossas desimportâncias para conseguirmos ser mais efetivas. Passamos a assumir responsabilidade e comprometimento ético com nossa formação, nos disponibilizando a aprender e a nos instrumentalizarmos, para garantir a efetividade do nosso trabalho voluntário de forma segura e ética. Assim, acionamos os professores
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