A mudanca como fenomeno no cuidado em saude

85 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde tência nos contaminou; mas, ao mesmo tempo, construímos, com o grupo, modos de ressignificar o vivido, lidando com possibilidades e impossibilidades. O caos vivido, no grupo, segue em nossa memória e nos afeta de múltiplas formas. Concomitantemente, o grupo foi se estruturando, assim como o abrigo foi ganhando novos contornos e formas de organização. A Roda de Mulheres passou a viver um processo autogestivo, que potencializou a formação de uma organização comunitária. Nesse contexto, a escuta mútua se intensificava e a sensação de comunidade – entendida como um grupo social unido por interesses semelhantes, muitas vezes com origens comuns e um território compartilhado (Lages, 2004) — se expandia entre as participantes. Segundo Lourau (1993), a autoanálise e a autogestão surgem em processos coletivos, no momento em que o grupo experimenta coletivizar seus modos de compreensão sobre as suas questões e, simultaneamente, criar formas de resolução e invenção de novas problemáticas. Assim, na Roda com as Mulheres, procuramos fomentar processos autogestivos, promovendo o compartilhamento da autonomia, tanto nos modos de pensar o que estávamos vivendo, quanto na construção de saídas para os dramas elencados. Nesse sentido, o grupo não apenas ofereceu um espaço de acolhimento, mas se transformou em um território de resistência e de criação. As mulheres, ao tomarem para si a responsabilidade de refletir e agir sobre suas vivências, reinventaram suas formas de lidar com o cotidiano do abrigo e, assim, ampliaram as possibilidades de transformação de suas realidades. Esse processo não só revelou a força da coletividade, como também apontou para a importância da autogestão e da criação de um comum, em meio às experiências da calamidade. O grupo se torna roda: experimentações e compartilhamentos No ambiente desafiador do abrigo, o grupo de mulheres, inicialmente formado com o propósito de oferecer apoio, transformou-se em uma roda de compartilhamentos e de experimentações. Através das falas das participantes, emergiram vivências e violências, que marcaram sua jornada em meio à calamidade. Uma integrante destacou o que a enchente havia levado delas: o passado, a privacidade e o lar. Esse

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