95 Cadernos do PAAS, volume 11 - A mudança como fenômeno no cuidado em saúde No cenário do RS, tanto em 2023 quanto em 2024, foi possível observar uma aparente necessidade do voluntário em tomar alguma ação frente aos fatos. Mesmo sem nenhuma formação, sem nenhuma atuação prévia, sem sequer saber qual cenário enfrentariam as pessoas se viram sensibilizadas a dispor do seu tempo em prol dos atingidos. Carvalho, Barros e Silva (2021) relatam que, diante de desastres naturais o voluntariado pode estar associado a ideia de benefícios diretos à comunidade. Estudos (Soares; Campos, 2024; Carvalho; Barros; Silva, 2021; Oliveira, 2018), apontam a importante presença de voluntários em cenários de desastres naturais e discutem suas motivações. Muitos dos não atingidos estavam envolvidos em ações de voluntariado. Alguns desses, em sua primeira ação voluntária. Villarindo (2022) refere que o voluntariado no Brasil se mostra essencial nas respostas das crises de emergência. Entretanto, a autora pontua sobre a grande desorganização nesse modelo de assistência. Conforme Villarindo (2022), corroborado pela experiência desta pesquisadora, muitas pessoas sentem a necessidade de ajudar, querem ajudar, mas, não sabem como e aonde ir para colaborar de forma mais estruturada. Sendo assim, se jogam para fazer o que entendem ser necessário, o que, por vezes, pode gerar trabalho em duplicidade, tumulto e até mesmo atrapalhar a atuação dos socorristas. O cenário de desastre/emergência/enchente requer muitas ações simultâneas e imediatas. É um cenário bastante específico. Diante de tantas necessidades, muitos voluntários perderam o sono, passaram a dormir poucas horas e até mesmo esqueceram de se alimentar, sobretudo na fase dos resgates. É importante lembrar que, a negligência de necessidades fisiológicas e psicológicas, de forma cumulativa, pode diminuir a capacidade de resiliência e recuperação do indivíduo frente à situação. (UFRGS, Jornal da Universidade, 2024). A pesquisadora presenciou em seu período de voluntariado, a estafa, a preocupação, o cansaço e autonegligência de muitos voluntários com quem atuou nesse cenário de emergência. Conforme Noal, Rabelo e Chachamovich (2019) a exposição prolongada a situação de desastre e estresse, sobretudo para os trabalhadores e voluntários que não são emergencistas, mas, que em função do desastre atuaram como tal, podem desenvolver reações parecidas com aqueles que foram diretamente afetados. Podendo até a médio e longo prazo desencadear processos traumáticos.
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